Folha de S. Paulo


Futebol é raça

Toma esta, Bom Senso F.C.!

Quase mais "ajustado" ao calendário europeu do que os grandes centros do país, o Pará deu início neste final de semana, ao... Parazão 2014, o campeonato do ano que vem que começou agora em novembro.

Sei dessa porque eu estava em Belém nos últimos dias, ocupado com assuntos musicais, mas não a ponto de deixar passar destacáveis infos futebolísticas dos cadernos de esporte locais, meu hobby em viagens.

Os tradicionais Remo e Paysandu só entram no campeonato em janeiro, vá lá. Mas a "sensação" Gavião Kyikatejê, não. O time jogou neste final de semana pela primeira vez na divisão principal do futebol paraense e arrancou um empate no final contra os rivais do Águia, no "clássico de Marabá". Foi a primeira vez que os dois times se enfrentaram em uma competição oficial.

O Pará boleiro anda todo inusitado. O Gavião Kyikatejê é uma equipe algo especial formada há apenas quatro anos no interior do Estado. Fundado em 2009, foi anunciado como primeiro time indígena do Brasil. No princípio jogavam apenas membros da tribo.

O presidente e o técnico eram índios também. Na verdade, eram a mesma pessoa. Como não conseguia fazer o clube chegar à primeira divisão, abriu as portas primeiro para outras tribos e, agora, para não-indígenas. Isso causou uma certa celeuma na cidade, entre a tribo, mas logo abafada porque enfim o time chegou à principal divisão do Pará.

O Gavião Kyikatejê, espécie de ex-Athletic Bilbao (time espanhol que só aceita jogador de etnia basca) do Norte do Brasil, se insere assim, a seu modo, no mais latente assunto do futebol brasileiro e mundial atualmente: a questão da "nacionalidade", que o caso Diego Costa/Brasil/Espanha trouxe para as manchetes.

O inevitável movimento da globalização está deixando o futebol confuso, sem o sentido do que é certo ou errado ou se existe certo e errado nessa história. E vem atingindo desde um time pequeno de índios do interior do Pará até duas das principais seleções nacionais do planeta.

O caso mais emblemático é o do moleque Adnan Januzaj, 18, do Manchester United, uma das maiores revelações deste campeonato inglês. Ele ainda não se decidiu para qual das SEIS seleções possíveis ele gostaria de emprestar seu futebol.

Januzaj gostaria de jogar por Kosovo, país de onde seus pais fugiram da guerra para fazê-lo nascer na Bélgica, mas a Fifa ainda não reconhece exatamente Kosovo como um país boleiro. E pela Bélgica não está muito a fim de jogar.

Poderia ser por Albânia, Turquia e Sérvia, por causa das relações familiares, mas Januzaj acha pouco provável. Ou, por que não, a Inglaterra, onde ele chegou em 2011. A Fifa diz que com cinco anos trabalhando num país diferente um atleta pode jogar na seleção local. Então, se ficar por lá, e não se decidir por outra seleção, em 2016 Januzaj pode virar "inglês". Como dizem por lá, "what a mess".


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