Folha de S. Paulo


Muito além da cerveja

No final de semana, além do espasmo de sobrevida palmeirense e da perda de paciência de Neymar, testemunhei, graças a essas chances que a internet dá, dois jogos do... Campeonato Belga.

É que a coluna de hoje nasceu em novembro de 2012, quando uma foto do "New York Times" me chamou a atenção. E desde então estou fissurado por uma "causa belga" que não é a cerveja nem o chocolate.

A imagem do "NYT" era de um monte de torcedores escoceses zoando dois belgas em plena Bruxelas, horas antes de as seleções jogarem pelas eliminatórias. Jogo e foto eram de outubro. A reportagem, um mês depois, tinha jeitão de "especial". Antes de eu ler sobre o que se tratava o texto ilustrado por tal foto, fiquei com dó da Bélgica e dos belgas. Das seleções de outrora do país, só me marcaram uns poucos, tipo o goleiro Pfaff, dos anos 70, talvez por causa do jogo de botão.

Acontece que o futebol belga está fazendo história. Dentro e fora do futebol. Não dá mais dó.

O jogo contra a Escócia da foto do "NYT" foi um atropelamento belga, e o time se colocou em primeiro do Grupo 1 das eliminatórias, na frente de Croácia e Sérvia.

Na Europa, em que todos têm olhos para Alemanha e Espanha, a Bélgica requer uma atençãozinha. Eu, de sopetão, já sou capaz hoje de lembrar pelo menos três belgas do Campeonato Inglês: o zagueiro Kompany, capitão do Man City, o meia Fellaini, do Everton, que tem uma cabeleira engraçada, e o Hazard, que dizem ser o verdadeiro craque do Chelsea, mas ficou famoso por ter agredido um gandula.

Essa leva de belgas bons que infestam o Inglês e marcam presença no Alemão e no Italiano, além de brigarem firme rumo ao Brasil-2014, está ajudando a apaziguar um país tão pequeno e tão dividido politicamente, com riscos de cisão séria.

O país de 11 milhões de habitantes (SP tem 41 milhões) tem dois grupos que racham a nação: os flamengos, que falam derivado de holandês, e os valões, que falam francês.

Quando um jogo da seleção acaba, os jogadores são divididos para dois tipos de entrevistas, dadas ao mesmo tempo. Os que vão se expressar em flamengo de um lado, os em francês do outro. Depois saem abraçados da sala, o que tem comovido a nação, porque, desculpe o futebolês, em campo realmente "o time está unido", mais que nas ruas.

A revista "Esquire" britânica, em sua última edição, traz chamada de capa para a "a seleção que conquistou o mundo". Elenca a "golden generation" belga e dá voz a um dirigente que entrega o "segredo": nova visão de futebol está sendo aplicada a atletas desde a escola até a seleção. Apenas jogando no 4-3-3 e mais em nenhum outro. Hein?

Quem diria, a Bélgica do Pfaff"... (Hoje o belga Vermaelen carrega o Arsenal contra alemães do Bayern de Munique, pela Champions. Adivinha para quem eu vou torcer?)


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