Folha de S. Paulo


Série 'Mad Men' se despede com enigma sobre protagonista

Peggy prosperou. Pete agora tem coração (ou quase). Joan passou a ver seu sex appeal como problema. Ken desistiu da agência. Roger se curvou a um amor antigo. Betty se descobriu vulnerável. E Don Draper, o anti-herói em torno do qual gravitaram as sete temporadas (divididas em oito anos) de "Mad Men", aonde chegará quando a série acabar, neste domingo?

Salvo uma reviravolta que traia a lógica deste drama sobre a ascensão dos publicitários americanos nos anos 1960 e 70, ele irá de volta ao ponto de partida, a fuga de si mesmo.

Desde a estreia na pequena rede americana AMC, em julho de 2007, "Mad Men" deixou claro já na animação de abertura que trataria da derrocada de Don Draper (Jon Hamm), o sujeito que, vindo do nada, se deu bem na vida –o self-made man clássico americano, mas com um quê existencialista.

Ao longo dos episódios, o espectador e os demais personagens vão percebendo que o bem-sucedido Don vive espremido entre o fantasma de um passado de mentiras e o gigantesco personagem que criou para si. A derrocada prometida se torna, então, uma libertação almejada.

Sem "spoilers" aqui, mas até o penúltimo episódio, essa ainda era a sina de Don. Mais confortável consigo, mas não com o passado, ele continua em busca de uma rota de saída, com mais e mais pressa.

Essa "acelerada", em uma série reconhecida pela falta de pressa em construir sua história, criou rumores de um final inesperado, em que Don se tornaria um famoso criminoso americano que, nos anos 1970, se tornou conhecido pela identidade dúbia e por sequestrar um avião.

Matthew Weiner, o criador da série, diz que não. Em entrevista recente ao jornal "The New York Times", insistiu que as coisas caminharão de forma natural, mas nada será previsível. Isso não significa reviravoltas, mas algo que Weiner definiu como "a vida como ela é". "Uma jornada natural", afirmou.

Weiner tem experiência com finais polêmicos –foi produtor e roteirista de "Família Soprano" (1999-2007), cuja cena derradeira deixou muita gente no ar e à qual ele chama, até hoje, de "a melhor série de todos os tempos". Então é possível que alguma surpresa apareça.

Talvez, porém, como a série tem dado pistas, ela não venha do protagonista. Ao longo dos anos, os coadjuvantes cresceram.

A agência Sterling Cooper acabou. Peggy (Elisabeth Moss), Joan (Christina Hendricks), Pete (Vincent Kartheiser), Betty (January Jones) e a adolescente Sally (Kiernan Shipka) estabeleceram suas próprias "jornadas", amadurecendo, surpreendendo –elas mais do que ele.(É preciso ressalvar que, apesar de acusações iniciais de machismo, poucas obras pop trataram de feminismo de forma tão incisiva.)

Merecem as próprias redenções, e será emocionante, na nostalgia da despedida, descobrir quais são elas. "Mad Men" sempre foi sobre nostalgia. Será bom ter saudade deles.

Mad Men


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