Folha de S. Paulo


Mas será o Benedito?

Vários candidatos têm sido cotados nos últimos dias para a vaga deixada por Joaquim Barbosa no STF (Supremo Tribunal Federal). Na semana passada, o ex-deputado petista e advogado Sigmaringa Seixas levou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o nome do jurista gaúcho Luiz Edson Fachin. Renan avisou ao Palácio do Planalto que Fachin não passa, dadas suas ligações históricas com o PT e a CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Renan está em pé de guerra com o PT e o governo da presidente Dilma Rousseff, e tem dito que não apoiará nenhuma indicação com a digital do partido. Pelo visto, Fachin está fora, apesar de ter recebido o beneplácito de Sigmaringa, mentor no PT para nomeações no Judiciário.

No final de semana passado, conforme a Folha revelou nesta segunda (30), o ministro Mauro Campbell (Superior Tribunal de Justiça) estava bem próximo de ser nomeado para a cadeira de Barbosa, vaga desde julho do ano passado. Nesse tipo de disputa, à medida que um sobe, forças opositoras passam a agir, na defesa de outros interesses e candidaturas.

E assim voltou ao cenário o nome de Luís Inácio Adams, advogado-geral da União.

O amazonense Campbell continua no páreo. Tem a seu favor três predicados (diante das atuais circunstâncias): não é petista, ostenta o peso do STJ e tem como padrinho o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia), peemedebista e também amazonense. A nomeação de Campbell, no entanto, poderia ser interpretada como capitulação de Dilma perante as ameaças e chantagens de Renan e do PMDB.

Adams conta com forte apoio do PT, incluindo o ex-presidente Lula. E por isso mesmo, assim como Fachin, terá dificuldades para passar pelo crivo peemedebista.

Surge, assim, uma "terceira via", um nome que já fora cogitado outras vezes, mas que era considerado ultimamente carta fora do baralho: o também ministro do STJ Benedito Gonçalves.

Benedito, assim como Barbosa, é negro —um dos poucos a ocupar alto cargo no Judiciário brasileiro.

Vários congressistas e lideranças da causa negra têm pressionado Dilma a indicar Benedito, o que tem desagradado a presidente.

Num período de Operação Lava Jato, gravíssimas crises econômica e política e guerra campal aberta pelo PMDB, a questão racial para a indicação no STF é uma das últimas preocupações da presidente, a despeito do bom currículo de Benedito, um juiz federal de carreira, formado na UFRJ.

Há quem defenda no governo, contudo, que o tema "cota" poderia servir exatamente como o instrumento necessário para furar o bloqueio do "partido aliado". Num país de racismo disfarçado, numa Corte Suprema caucasiana formada por Lewandowskis, Toffolis, Zavasckis e Webers, a nomeação de um negro Gonçalves —frise-se, com currículo para o cargo— poderia soar como uma questão de justiça.

E Benedito tem a credencial do STJ, contra cujo detentor político algum gosta de comprar briga.

Pelo que se vê, a nomeação para o STF, que deve ser anunciada nos próximos dias, será bem disputada até o final.


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