Folha de S. Paulo


Doria lançará parque Augusta em agosto; faltou incluir moradia popular

A Prefeitura de São Paulo anuncia no dia 4/8 o acordo para a criação do parque Augusta. As empresas proprietárias da área, na esquina da Augusta com Caio Prado, vão receber em troca o terreno onde fica a prefeitura regional, a unidade da CET em Pinheiros e outros serviços públicos, na esquina da rua Sumidouro com marginal Pinheiros.

Um movimento da sociedade civil ficará feliz e uma grande área verde no centro da cidade será preservada e ganhará mais árvores. É o fim de uma novela na vida de São Paulo, iniciada no final da década de 1970.

O epílogo (anunciado pela colunista Mônica Bergamo no sábado, 15/7) levou quatro décadas. O acordo foi fechado depois de três meses de negociação entre Executivo municipal, as duas empresas e o Ministério Público.

Há vários bons resultados, que merecem elogios: 1) nasce um parque no centro; 2) a prefeitura privatiza e mobiliza uma área subutilizada em Pinheiros; 3) pelo acordo, as empresas também vão cuidar da área na rua Augusta e transformá-la em parque; 4) vão adotar por dois anos a praça Victor Civita, que está sem padrinho desde o começo de 2016; 5) vão criar um centro de atendimento para 250 moradores de rua e 6) uma creche para 200 crianças. É uma lista parruda de contrapartidas.

O maior sinal positivo é o acordo em si: resolveu em três meses um enrosco de 40 anos. Mostra capacidade de articulação do poder público numa época bicuda em que políticos estão desacreditados e os cofres públicos vazios.

"E todos felizes", concluiu o prefeito João Doria à coluna no sábado.

"Todos" menos este colunista. Acho que faltou falar de habitação popular. A cidade de São Paulo necessita desesperadamente de moradias e precisa criar soluções inovadoras para se libertar do modelo do projeto federal Minha Casa Minha Vida ("Meu fim de mundo"), que gera apartheid social em guetos distantes. Onde houver um terreno central, a primeira pergunta deve ser como encaixar um projeto de casas populares com boas condições de vida.

Sem saber da negociação envolvendo o parque Augusta, na quinta-feira (13) o Conselho Participativo de Pinheiros promoveu um debate sobre o destino da área da prefeitura regional. O terreno foi incluído em processo de privatização previsto em lei enviada pelo prefeito à Câmara, em 21 de junho, que prevê a venda de todos os terrenos municipais maiores que 10 mil m². Mas o projeto só menciona explicitamente o de Pinheiros. Ao falar à coluna, João Doria desconhecia a referência ao terreno no projeto de lei. Não é grave: basta um vereador fazer uma emenda tirando o anexo, uma vez que a área, agora, já tem destino.

Quando comecei a escrever este texto, antes de saber da permuta, ia propor que o terreno de Pinheiros incluísse moradias de baixa renda. A iniciativa privada já fez na área bons prédios de classe média alta. O lugar é valorizado, ao lado da praça Victor Civita, com acesso a transportes públicos e uma zona fervendo de restaurantes e bens culturais.

Um conjunto habitacional com concepção nova, pluralidade de classes e sem dimensões gigantescas, pode ser um exemplo para o país que vive refém do modelo perverso e demagógico criado por Lula para eleger Dilma.


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