Folha de S. Paulo


Yes, we can!

Os mais recentes números do PIB (Produto Interno Bruto) indicam uma contração de mesma magnitude da que vivenciamos no primeiro trimestre de 2009, após a eclosão da maior crise internacional desde 1929.

Naquela ocasião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi à TV e parece ter convencido a maioria dos brasileiros de que o Brasil podia superar a crise: tinha vultosas reservas internacionais, contava com a força do mercado interno e o comando firme do governo.

Após anunciar diversas medidas de estímulo à economia, o ex-presidente garantiu que os investimentos governamentais não seriam cortados, para então pedir a colaboração de todos: os empresários deveriam seguir investindo e as famílias não poderiam ter medo de consumir.

"Se você não comprar, o comércio não vende [...] e aí a fábrica produzirá menos", explica o ex-presidente, em uma verdadeira aula sobre o Princípio da Demanda Efetiva de Keynes. Já no segundo trimestre de 2009, a economia voltou a crescer 2,2%.

O governo Dilma, desde que ganhou as eleições, parece, ao contrário, ter se dedicado a convencer os brasileiros de que a oposição estava certa e de que estamos todos no mesmo barco em vias de naufrágio. O governo decidiu investir menos, incentivando as famílias e empresários a fazer o mesmo. Perde seu tempo procurando a fadinha da confiança, em vez de buscar a autoconfiança perdida.

Um manual de autoajuda bem simplório, desses disponíveis na internet, sugere que, para recuperar a autoconfiança, se faça um balanço de si mesmo e se reconheça o seu potencial.

Apesar dos erros na política econômica, o nível de dívida pública líquida, que era de 37% do PIB em 2011, hoje é de 34% do PIB. Esse patamar já foi de 60% no Brasil, em 2002, e é hoje de 170% na Grécia e de 50% na Alemanha.

A dívida bruta, que não desconta as reservas internacionais e outros ativos do governo, subiu nos últimos anos, é verdade, mas ainda nos mantem atrás da grande maioria dos países que conseguem se financiar no mercado de títulos. Além disso, seu perfil melhorou bastante, com prazos mais longos, quase nenhuma dívida externa e menos títulos indexados à Selic.

Assim, o governo ainda pode ajudar a superar a crise se contar, como em 2009, com a força do mercado interno e com sua capacidade de endividamento, que, aliás, já está sendo usada para cobrir sucessivas quedas nas receitas e o pagamento de juros cada vez mais altos. Melhor seria endividar-se para preservar empregos e expandir investimentos em infraestrutura física e social.

Já a alta do dólar, por encarecer produtos importados, é uma boa oportunidade para a indústria nacional, que tem hoje melhores condições de atender a um eventual aumento nas vendas.

Infelizmente os ideólogos de Chicago continuam a desdenhar da aula magna de economia que nos deu o operário ganhador de tantos títulos de doutor honoris causa mundo afora. Pior. Desprezam os gritos da realidade para os quais até simplórios manuais de autoajuda revelam-se mais úteis que seu cantochão ortodoxo.

A proposta de Orçamento para 2016, enviada na segunda-feira (31) ao Congresso Nacional, dá aos mais otimistas a impressão de que o realismo ainda tem alguma chance neste governo. O balanço feito também indica que o navio pode chegar a terra firme. Mas quem comanda?

Clique para ver o infográfico: Dívidas dos países em % do PIB


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