BRASÍLIA - Com essas palavras, Marcelo Odebrecht aparece em vídeo defendendo a legitimidade dos pedidos feitos ao então ministro da Fazenda, Guido Mantega, em depoimento gravado em vídeo para o Ministério Público Federal (MPF).
Perante as câmeras, Marcelo Odebrecht e também seu pai, Emílio Odebrecht, afirmaram que não teriam pedido nada ao ministro que só beneficiasse seu grupo. Emilio chegou a citar Gerdau e Vale como companhias interessadas em ver os pleitos da Odebrecht atendidos.
Ambos disseram aos procuradores do MPF terem agido na mais alta instância do governo. O filho, junto ao ministro Guido Mantega, e o pai, com o então presidente Lula.
Ao doar R$ 150 milhões para as despesas do PT, oficialmente e via caixa dois, o grupo Odebrecht "construiu uma relação", nas palavras de Marcelo Odebrecht, e se apoderou da agenda do ministro.
Depois dos primeiros R$ 50 milhões liberados, Marcelo Odebrecht disse ao MPF que já tinha uma "relação tal" com Mantega que não precisava mais exigir contrapartidas. O "toma lá, dá cá" ficou implícito.
Muitas vezes, ainda segundo o executivo, o próprio ministro o chamou só para fazer pedidos em nome do partido. Para aproveitar a reunião, Marcelo Odebrecht apresentava um "pleito do momento".
O grupo conseguiu três medidas provisórias. Uma delas corrigiu a anterior, que não tinha ajudado tanto a empresa a recolher menos tributos.
É suficientemente chocante ver e ouvir um dos maiores empresários do país contar como o gabinete do ministro virou um departamento de sua empresa. Mas o que causa mais espanto é a naturalidade com que menospreza o dano de seus pedidos.
As medidas provisórias permitiram à empresa deixar de pagar pelo menos R$ 8 bilhões em tributos. Na semana passada, o governo, constrangido, raspou o tacho, não achou R$ 9 bilhões no caixa, e cortou despesas de programas sociais.