Folha de S. Paulo


Adoraria viver no País do Futebol, mas não vivo

Um quarto dos paulistanos não se interessa por futebol revelou recente pesquisa do Datafolha.

Mas 36% são corintianos, o que revela uma novidade na capital paulista.

Porque, em regra, pesquisas nacionais sobre torcidas mostram que o maior contingente é o de não-torcedores.

Assim foi com a pesquisa da mesma Datafolha no ano passado: 19,4% dos ouvidos disseram não se interessar por futebol, à frente de 16,5% flamenguistas e 13,6% corintianos.

Não há surpresa.

Gostamos de um autoengano e de nos chamar de "país do futebol", arrematada bobagem se nos compararmos à Alemanha, Argentina e Inglaterra, para citar apenas três países do Primeiro Mundo do futebol.

Desde que a revista "Placar", nos anos 1980, começou a fazer tais sondagens, primeiramente com o Instituto Gallup e depois com o Ibope, o resultado sempre foi o mesmo: tem mais brasileiros que não ligam para o ludopédio do que os que ligam. E mesmo os que ligam, como ainda demonstrou o Datafolha, não são capazes de escalar o time do seu coração.

Fomos sim, um dia, o país do "beautiful game", graças à sucessão de gênios que povoaram a seleção nos anos 1950/60/70/80.

Ninguém desconhecia onde jogavam Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Gérson, Rivellino, Romário, os Ronaldos, Rivaldo.

Hoje sobrou Neymar, que joga na Espanha, e nem é o melhor do mundo.

Envelhecer não é nada bom e, se não bastasse, faz com que poucas coisas surpreendam o observador.

A primeira vez, muitos e muitos anos atrás, em que escrevi que não éramos o país do futebol, houve quem visse ranzinzice e até quem dissesse que um diretor de revista esportiva não deveria argumentar contra o seu ofício.

É a tal história, embora nem todos acreditem: jornalista torce, mas não pode distorcer.

Adoraria viver no País do Futebol. Mas não vivo.

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BIBLIOTECA BRASILEIRA

Há um precioso livro na praça, pela Edusp: "Cego é Aquele que só Vê a Bola: O Futebol Paulistano e a Formação de Corinthians, Palmeiras e São Paulo", de João Paulo França Streapco, mestre em História Social pela USP.

Em 247 páginas você conhece como se deu a ocupação dos espaços esportivos na cidade de São Paulo e a gênese do Trio de Ferro, para também desmistificar certas lendas transmitidas de geração em geração.

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BIBLIOTECA MUNDIAL

Foi lançada na Inglaterra a biografia do Doutor Sócrates, fruto de quase dois anos de pesquisas e entrevistas pelo mundo afora do jornalista escocês Andrew Downie, correspondente no Brasil do "The New York Times", "The Guardian", "The Economist" e "Esquire".

Com prefácio do genial e saudoso holandês Johan Cruyff, 384 páginas viajam de Ribeirão Preto à Florença, com mais de cem entrevistas, da mãe aos filhos, passando pelos irmãos, pelos amores e desamores, pelo afetos e desafetos, com resultado final que o biografado adoraria, detestaria e convidaria o autor para debater em torno de um copo de cerveja ou de vinho.

"Doctor Socrates, Footballer, Philosopher, Legend", pela editora Simon&Schuster, está à espera da devida tradução por alguma editora brasileira.

Sócrates, e sobretudo os leitores, a merecem.


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