Folha de S. Paulo


Caos corintiano

Até em impeachment por motivo tosco se fala no Corinthians, não porque haja fato realmente grave e prejudicial ao clube, mas porque a gestão do presidente Roberto de Andrade, inventado pelo ex-presidente Andrés Sanchez, encalacrado no STF, é abaixo da crítica.

Os que querem dar o golpe eram seus aliados quando tudo parecia correr a mil maravilhas e o time de futebol era campeão.

Agora, como o time é quase tão ruim como o cartola, um bando de oportunistas quer afastá-lo, alguns de olho na administração do estádio –o que afunda, e é objeto de uma coleção de ilegalidades contratuais.

Sim, afunda a ponto de a Odebrecht, sem autorização do Corinthians e sem dar conhecimento a quem de direito como a prefeitura e o Conselho Regional de Engenharia, esteve calçando tubos que deslizaram no subsolo do estacionamento oeste por causa do curso d'água que, irregularmente, passa por baixo do prédio. O Ministério Público foi lá –e não viu.

A empreiteira que negava haver problemas, age agora emergencialmente porque "a auditoria do Corinthians identificou riscos, mas nada fez para corrigi-los".

A mesma Odebrecht que garante não estar mais no estádio, mas está e que agora, delação premiada quase aceita, tem mais que nunca o deputado petista Andrés Sanchez na mão, embora o caixa 2 possa ser anistiado pelos nobres parlamentares em Brasília, sem que se tenha ouvido uma panela nas varandas gourmets.

A auditoria é caso à parte.

Como se sabe é tocada pelo bacharel em Direito Paulo Molina, amigo de infância de Andrés Sanchez.

A cada dia seu papel fica mais claro, como se fosse o Velho Guerreiro Chacrinha, que veio para confundir, não para explicar.

A auditoria vaza mais informação que os 20 milhões de litros d'água sob o estádio, banaliza o efeito do que descobre e tem apenas uma intenção, desdobrada em diversos detalhes: livrar a cara dos cartolas envolvidos, manter intacta a imagem do estádio e diminuir o tamanho da dívida do Corinthians.

Só agora, tardiamente, bate de frente com a Odebrecht.

Se quisesse enfrentar com eficácia a construtora teria, na semana que passou, ao descobrir a envergadura do que está em execução sob o estádio, feito um boletim de ocorrência na delegacia de Itaquera e a denunciado pela ilegalidade da obra.

Mas limitou-se a mandar filmes do estado lamentável das tubulações para o conselheiro do clube, Romeu Tuma Júnior, botar em sua rede social.

Prova mais eloquente de que não se quer chegar a lugar nenhum minimamente sério é impossível.

Como no Brasil do impeachment a turma que quer tomar o poder no Corinthians é despudorada e a que quer se manter faz uma lambança em cima da outra.

Em resumo: ruim com uma, pior com a outra.

O dramático é que não há luz no fim do túnel.

ESCURIDÃO

O vice-presidente André "Negão" não tem biografia, mas folha corrida, além de ser unha e carne com Andrés Sanchez.

O grupo que quer o impeachment tem conselheiro apelidado de "171 do Vale do Paraíba" e é capitaneado por Herói Vicente, advogado em busca de sair da obscuridade como uma nova Janaína Paschoal.


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