Folha de S. Paulo


Não é preciso ser saudosista para olhar com nostalgia o futebol do Brasil

Ao terminar a última coluna perguntando qual foi o último time campeão brasileiro inesquecível, a coluna recebeu uma e apenas uma resposta, do gentil leitor Rudolf Zwad que cravou: "Corinthians de 2015, respondendo à sua pergunta".

Não pergunte a rara leitora e o raro leitor por quem torce o amigo Zwad, provavelmente ainda tocado pelas fabulosas exibições de seu time no Horto, contra o Galo, na vitória irretocável por 3 a 0 e pela goleada final no rival São Paulo, por 6 a 1.

Lembremos: o jogo em Belo Horizonte foi já na 33ª rodada, o Corinthians foi campeão ainda na 35ª depois de vencer, em casa, o Coritiba por 2 a 1 e empatar, fora, com o rebaixado Vasco por 1 a 1.

Enfrentou o São Paulo como campeão e pôs um time misto em campo na goleada. Os dois melhores jogadores da temporada, Renato Augusto e Jadson, nem estavam em campo.

Só que aquele time não ficou conhecido como o Corinthians de Renato Augusto. Ficou conhecido como o Corinthians de Tite. Era bom, longe de ser inesquecível para paladar mais exigente, com todo respeito ao leitor.

Inesquecível foi o Corinthians de Cláudio, no começo dos anos 50. Ou o de Sócrates, nos 80. Ou ainda o de Rincón no fim do século passado. Campeões brasileiros indeléveis, foram o Palmeiras de Ademir da Guia.

O Inter de Paulo Roberto Falcão. O Flamengo de Zico. O São Paulo de Raí, para muitos de Telê Santana. Talvez o Cruzeiro de Alex e o Santos de Robinho, mas, é claro, nada que se compare nem ao Cruzeiro de Tostão ou ao Santos de Pelé.

Fato é que se você pegar os últimos campeões nacionais, entre 2005 e 2015, começando e terminando com times corintianos campeões e, no meio, com o São Paulo de Muricy Ramalho (três vezes), Flamengo, Fluminense (duas vezes) e Cruzeiro (duas vezes), você encontra heróis como Conca e Fred, Adriano e Éverton Ribeiro, mas, times inesquecíveis, não.

Aliás, o Corinthians de 2005 que ganhou um campeonato tumultuado e sem graça, tinha mais estrelas (Tevez, Nilmar, Carlos Alberto) que o elenco de 2015, embora fosse pior como time.

Nenhum saudosismo é necessário para registrar o óbvio porque hoje em dia temos fora do Brasil times tão bons ou melhores dos que já tivemos por aqui.

Não se trata, portanto, da surrada e antipática frase "porque o futebol no meu tempo". Trata-se de apenas não se curvar aos vitoriosos ou achar que ser campeão basta para tornar um time inesquecível.

Houve times, não poucos, que não foram campeões –a seleção de 1982 é o exemplo mais gritante– e nem por isso deixaram de ser cultuados.

O fenomenal time do Botafogo de Garrincha, por exemplo, teria sido campeão mundial não fosse contemporâneo do Santos de Pelé. Nem Taça Brasil conseguia ganhar.

Volto, então, à tecla da coluna anterior: qualquer um dos três candidatos ao título deste ano terá o seu herói e, mais que o futebol mostrado, terá um título inesquecível, porque o Galo em busca dele há 45 anos, o Palmeiras há 22 e o Flamengo há sete.

Robinho, Gabriel Jesus ou William Arão? Ou Fred, Moisés, Diego? Que jogador será a marca do time? Ou será o time de Cuca, de Zé Ricardo?


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