Folha de S. Paulo


O rosto de Tite na seleção deve aparecer ainda mais contra a Colômbia

PODE PARECER incrível que em seu primeiro jogo na seleção brasileira Tite tenha conseguido dar sua cara ao time. Parece, mas não é.

Porque embora invariavelmente nos clubes o entrosamento e o jogar de ouvido demorem mesmo, Tite tem a seu favor poder contar com os jogadores mais talentosos nascidos no Brasil, algo que nenhum time de clube tem.

Uma coisa é fazer que fulano, beltrano ou ciclano, num clube, joguem como deseja o treinador antes de, digamos, seis meses.

Outra é escolher quem o técnico quiser e formar o time segundo seus princípios, apesar de poucos treinos, mas com muita conversa.

Em vez de Luciano, Gabriel Jesus; em vez de Malcon, Neymar. No lugar de Romero, Willian, ou, no futuro, Douglas Costa.

Faz enorme diferença, convenhamos, principalmente quando o treinador vai além de ganhar, gosta de bom futebol.

Se o técnico não tem mania de inventor, e nem é arrogante a ponto de querer impor seu estilo em vez de respeitar as características do jogador, a personalidade dele aparece mais facilmente na equipe que dirige porque mantém o modo como cada atleta atua em seu clube.

É claro que o fato de ter no setor de meio campo dois jogadores com quem já trabalhou, como Renato Augusto e Paulinho, colaborou bastante para o bom segundo tempo em Quito, mesmo que se deva discutir a presença de Paulinho.

É de se imaginar que contra a Colômbia, terça (6), em Manaus, independentemente do resultado, o rosto de Tite apareça ainda mais claramente, com novos três dias de treinos e mais conversa a seu dispor.

Outro fator que parece ter ajudado o desempenho da seleção brasileira contra a equatoriana foi o de que a altitude atrapalhou também a atuação do time local, coalhado de jogadores que perderam o hábito de atuar em Quito.

Houve momentos em que pareceu até que os 2.850m de altitude atrapalharam mais os anfitriões que os visitantes.

Dos 11 adversários que começaram o jogo, só o zagueiro Achilier joga no Equador e, assim mesmo, no Emelec, de Guayaquil, ao nível do mar. Dos três que entraram no segundo tempo, também só um, Arroyo, joga lá. Ou seja, de 14 jogadores utilizados, apenas dois jogam no Equador.

México, com dois jogadores, Inglaterra, com três, Argentina, Rússia, Estados Unidos, Brasil e Espanha abrigam a esmagadora maioria dos atletas equatorianos, realidade que nos é familiar.

Seja como for, lembremos, os equatorianos estavam invictos em casa desde as eliminatórias para a Copa de 2014 ao acumular nove vitórias e dois empates até levar a inesperada traulitada que levaram dos brasileiros na semana passada.

Tite não está livre de críticas nem sequer de desconfianças.

Há quem estranhe, por exemplo, e não são poucos, a primeira convocação do atacante Taison, 28, do Shakhtar Donetsk, o clube ucraniano que há anos cede mais jogadores para os times da CBF que o Barcelona e o Real Madrid.

Verdade que Tite o queria no Corinthians há muito tempo por ver nele qualidades que nós talvez não percebamos.

Mais importante é perceber que o eventual sucesso da seleção não significa a resolução dos problemas do futebol brasileiro.


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