Folha de S. Paulo


Quem pensa que no esporte o triunfo vem com os pés ou as mãos se engana

THIAGO BRAZ mandou subir o sarrafo cinco centímetros, embora, ao contrário de seu rival, jamais houvesse saltado 6m03.

Mandou porque tinha certeza de que inflado pela torcida conseguiria atingir a marca que valeria o ouro, tamanho o susto imposto ao adversário.

De fato, Braz saltou, e o francês, perplexo, incrédulo, não.

Estava mentalmente derrotado, independentemente das inaceitáveis vaias que recebeu da torcida mal-educada presente ao estádio Nilton Santos.

Do mesmo modo, o pugilista Robson Conceição subiu ao ringue com o peito dourado, tal a confiança que o fez se impor a outro francês ainda antes de a luta começar. A postura física de um e outro permitia ter certeza da vitória.

Como a concentração da judoca Rafaela Silva dava a ideia de que sua conquista era inevitável, situação idêntica à da dupla brasileira de vôlei de praia Ágatha e Bárbara antes e durante o jogo contra a da tricampeã olímpica, a norte-americana Walsh, invicta desde Atenas em 2004, nada menos de 26 vitórias seguidas em Olimpíadas.

As brasileiras estudaram a campeã, sabiam que não eram as favoritas, se concentraram na ideia de que era é possível e venceram sem dar chances às rivais.

Se a mente tem seu lado brilhante, tem também o sombrio.

Aquele que fez o time nacional de basquete perder para a Argentina como perdeu, derrotado mentalmente quando tinha a vitória nas mãos.

Ou o que fez as mulheres do futebol caírem na óbvia armadilha sueca, clara desde o início da semifinal, planejada para levar o jogo aos pênaltis. As brasileiras foram incapazes de criar alternativas por 120 minutos e agora amargam o fim do sonho do ouro.

É óbvio que há derrotas que não significam a submissão mental, como a do vôlei feminino para as chinesas.

Mas subestimar o trabalho psicológico é erro primário, algo que ainda não está devidamente absorvido no esporte nacional.

Some a isso os insuportáveis coros de "eu acredito" e "sou brasileiro com muito orgulho" e teremos a receita certa para a derrota por falta de cabeça e criatividade.

Cabeças boas agradecem por jogar em casa. As nem tanto sucumbem diante da pressão.

Ou alguém acha que a Alemanha é tão melhor a ponto de ganhar de 7 a 1?

FINAL DE GALA

Honduras não resistiu 15 segundos. Aos 14' tomou o gol de Neymar e depois levou um baile.

Os patinhos feios, os rapazes, viraram cisnes, e as meninas, coitadas, agora são chamadas de amarelonas.

Mas a verdade é que eles começaram a jogar como treinaram e tinha mesmo de dar certo.

Ter a Alemanha na final é mesmo o que de melhor poderia acontecer. Ou de pior...Mas ficou especial.


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