Folha de S. Paulo


No hemisfério sul, raramente se viu algo como a abertura da Rio-2016

Bem que os policiais grevistas anunciaram aos turistas no Galeão o que seria o Rio na Olimpíada 16.

O inferno não é melhor que o céu, mas o inferno é melhor que o céu, porque o céu não é o meu inferno.

Para os ateus, então, o sonho do inferno é muito mais animado que o do céu.

Gisele Bündchen, a "nova Garota de Ipanema", irá para o inferno e Eduardo Cunha comprou sua entrada no céu. Precisa mais?

Garrincha está no maior fogo ao lado de Sócrates. Marcelinho Carioca e Rogério Ceni irão para o céu.

Daí o Rio ter virado uma labareda.

Não fossem seus cartões postais de sempre, do Cristo Redentor que abençoa o pecado ao Pão de Açúcar que se dissolve em sensualidade, a cidade teria ficado irreconhecível porque poucas vezes se viu alguma coisa parecida abaixo da linha do Equador.

É até estranho.

Acostumado a cobrir megaeventos esportivos longe do Brasil, quase sempre com um oceano no meio, pela segunda vez em apenas dois anos as coisas acontecem na esquina de casa ou, no máximo, a 400 quilômetros.

Então, você aumenta a torcida, não só pelas vitórias de nossos atletas, mas, também, para que dê tudo certo, para que as cerimônias de abertura e fechamento sejam inesquecíveis e você até ajuda o alemão que brincou com o 7 a 1 e precisa de socorro porque não consegue, por falha dele, se conectar à internet.

O Rio abre os braços e diz: vem. Você vai.

Paulinho da Viola canta o Hino Nacional e você precisa limpar os óculos que, de repente, sem mais, embaçaram. Pena que ele tenha se limitado à primeira parte.

Ora o "Fora Temer" estava no programa e pelo menos não o mandaram tomar naquela parte como fizeram, em Itaquera, com quem ocupava legitimamente a presidência e seria reeleita.

Da Amazônia à favela o Brasil estava ali, com Gil e Caetano e até Anitta na apoteose, um país, outra vez, em busca de sua identidade depois de parecer que transporia a fronteira, com Jorge Ben Jor botando para quebrar. Nossa música faz milagres.

Um país fadado a chegar na boca do gol e chutar na trave, como Gabriel Jesus contra a África do Sul.

Secundário saber se Santos Dumont foi o primeiro a voar.

Basta registrar que ele também voou e o vôo do 14-bis foi emocionante, ponto alto, sem trocadilho.

Importa saber não quem fez primeiro, mas quem faz melhor. E o Brasil foi bem no quesito festa de abertura, com mais altos que baixos.

Até a seleção musical ouvida antes da cerimônia foi de primeira, de "Vai passar" com Chico Buarque a Roberto Carlos, com "Emoções".

Agora viveremos a parte menos importante por ser a mais importante: a luta pelo ouro.

Os Estados Unidos são melhores que o Brasil, mas o Brasil é melhor que os Estados Unidos, porque os Estados Unidos não são o Brasil.


Endereço da página:

Links no texto: