Folha de S. Paulo


Um Majestoso diferente

Quem sabe se um dia chegaremos por aqui a um nível civilizatório tal que, como na Espanha ou na Inglaterra, o time campeão seja recebido pelo rival com um corredor de aplausos, o "Pasillo" ou a "Guard of Honor".

É tradicional entre espanhóis e ingleses quando um time ganha antecipadamente o campeonato nacional que todos os adversários restantes façam o corredor.

O Barcelona já fez para o Real Madrid duas vezes e o Real Madrid já fez uma para o Barcelona, nas temporadas de 1987/88, 1990/91 e 2007/8, esta última no Santiago Bernabéu, coroada por uma goleada dos madridistas sobre os catalães por 4 a 1.

Em maio deste ano o Liverpool fez a Guarda de Honra para os campeões do Chelsea.

Imaginar que o São Paulo faça o mesmo para o Corinthians, ou vice-versa fosse o Tricolor o campeão brasileiro, parece demais, embora fosse um gesto tão elegante que poderia lembrar aos torcedores que a rivalidade não é inimizade.

Sonho anunciado, olhemos para a realidade.

Mais até do que querer, o São Paulo precisa carimbar as faixas alvinegras para seguir no G4.

Os são-paulinos poderão dizer que já fizeram a suprema gentileza de tirar o Galo do caminho corintiano e agora tratarão de ganhar mais três pontos em sua busca por salvar a temporada.

A virada tricolor na quinta depois que Alan Kardec e Rogério entraram em campo soou como ressurreição e o gol de Michel Bastos, o que bastaria para o título corintiano, foi dos mais belos deste Brasileirão.

De ressaca, os novos hexacampeões brasileiros têm todos os motivos emocionais para não pensar em derrota neste Majestoso diferente. Resta saber se terão condições físicas e a previsão de que Gil, Elias e Renato Augusto serão poupados dá a medida da dificuldade.

Com apenas quatro derrotas no campeonato, só uma delas em casa, mas para o rival Palmeiras, perder de novo em Itaquera para o outro arquirrival terá um sabor, se não azedo, no mínimo amargo, embora sempre será verdade que é melhor ter as faixas carimbadas pelo adversário do que carimbá-las.

Sim, dirá qualquer torcedor, quero que todos os anos carimbem as minhas faixas.

Tão generoso como o São Paulo fazer o corredor de aplausos para o Corinthians seria o Corinthians permitir que Alexandre Pato jogasse, mas, aí, voltaremos às utopias que o país de Eduardo Cunha está a léguas de viver.

MAU MARXISMO FC

Eis que o secretário-menor da CBF, Walter Feldman, agora em dupla com o diretor de marketing da entidade, Gilberto Ratto, perpetrou novo bestialógico, agora em "O Globo", embora na primeira pessoa do singular, como já fizera nesta Folha com Rogério Caboclo, diretor financeiro.

O que dá a certeza de ser um artigo apenas de Feldman nem é o singular, mas a má compreensão sobre o conceito do fetiche da mercadoria de Marx, que embaralhou a cabeça dele quando jovem militante do PCdoB. Ratto, provavelmente, jamais leu nem o primeiro capítulo de "O Capital".

Ambos reivindicam aquilo que a Unicef repudia: "permitir legalmente o vínculo esportivo entre clubes formadores e jovens de 12 anos".

"Jovens de 12 anos" são, no popular, apenas crianças, que querem explorar.


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