Folha de S. Paulo


Depressão paulistana

O que era para ser um ano glorioso, o ano da Copa do Mundo, começou mal sem nenhum representante da Pauliceia na Libertadores.

Mas a abertura do maior festival de futebol do planeta seria em São Paulo, como de fato foi. Verdade que com apresentação medíocre da seleção brasileira contra a croata.

De camisa amarela, apenas dois ídolos paulistas, Paulinho, e o maior de todos, Neymar.

Como no torneio continental, também no estadual o Trio de Ferro esteve ausente, na disputa entre o campeão Ituano e o Santos. Nada tão grave, mas sintoma de outras faltas, como se veria adiante.

Falta de um time que pudesse ameaçar de verdade a hegemonia do Cruzeiro, bicampeão brasileiro quase de cabo a rabo. Ou que pudesse ganhar, ao menos, a Copa do Brasil, que apenas confirmou a supremacia mineira.

Bom para o futebol brasileiro, é inegável, mas exemplar para escancarar o declínio paulistano, com dois dos clubes de maior faturamento no país, com a segunda e terceira maiores torcidas nacionais, o Corinthians e o São Paulo.

Que salvaram as aparências no fim da temporada, o Tricolor ao se classificar para a Libertadores e o Alvinegro para a pré.

Alguém haverá de dizer que o vice-campeonato brasileiro do São Paulo equivale à conquista da Copa do Brasil, o que é verdade. Meia verdade, porém, pior que muitas mentiras. Porque, amanhã, será lembrado que o Morumbi ainda não tem o título, o que lhe falta, e a história de um clube é contada pelas suas taças.

Do Trio de Ferro, restou o Palmeiras, para agudizar a depressão em pleno ano do centenário do campeão do Século 20, contente apenas porque se livrou, na última rodada e sem fazer a parte dele, de mais um rebaixamento, o terceiro no Século 21.

Restava a Copa Sul-Americana, cada vez mais importante, basta ver a festa do River Plate.

O São Paulo fraquejou em casa e viu a final pela TV.

Tudo isso poderia ser circunstancial, um ano excepcional, o primeiro, desde 1925, em que os grandes da capital, e do estado, jejuaram.

Lembremos que 89 anos atrás o São Paulo nem existia, o Palmeiras era o Palestra e o Santos apenas um clube do litoral, que viria a ser campeão paulista só em 1935.

Mas se olharmos para o desempenho além das fronteiras de São Paulo, constataremos que o ano foi trágico para o Brasil inteiro, quarto colocado em sua Copa das Copas, depois de levar de 10 a 1 nas disputas por um lugar na final e pelo terceiro lugar.

Além de fora das decisões dos dois torneios continentais.

O modelo está falido, frito e enfarinhado, só não vê quem não quer ou se locupleta com suas mazelas.

É possível ganhar mesmo assim, nos dois sentidos, que o diga o vôlei brasileiro, cujo modelo, desde os anos 80 quando surgiu vencedor, foi o de usufruir da galinha dos ovos de ouro sem matá-la, como se fez no futebol.

O Brasil vive na pré-história da gestão do esporte.

A solução não virá com a permanência de Aldo Rebelo.


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