Folha de S. Paulo


Bloomberg e as grandes mudanças em Nova York

Michael Bloomberg fez uma revolução como prefeito de Nova York. Em poucos meses ele concluirá o terceiro mandato (12 anos) e deixará o cargo.

Sua administração vale um profundo e belo estudo. Seu maior mérito foi a recuperação do espaço público da cidade para as pessoas. Tanto física como conceitualmente.

Mas ele fez muito mais. Não teve medo de ser polêmico nem procurou ser simpático. Ao contrário, é bastante seco e direto, no melhor estilo nova-iorquino. Não gosta de assessores aduladores; prefere que o critiquem e façam o embate de ideias.

O "New York Times", sobretudo, tem realizado uma resenha de suas ações e entrevistado personalidades de Nova York para sintetizar seu legado.
O resumo é o seguinte:
- privilegiar os pedestres;
- novas extensões de áreas verdes. Incorporou mais de um milhão de metros quadrados (quase um parque Ibirapuera), para buscar a meta de que cada cidadão esteja a dez minutos de um parque;
- restaurantes sem fumo;
- ciclovias: um sistema sólido de aluguel de bicicletas;
- estabelecimento de um programa de metas para escolas, ampliando o papel de gestão dos diretores;
- high line park: transformação de linha férrea degradada em parque linear, exemplo de requalificação urbana;
- fechou 164 grandes escolas e as substituiu por 656 menores, mais fáceis de serem gerenciadas;
- quedas relevantes de índices criminais;
- recuperação do uso das margens do rio Hudson

Pablo Martinez Monsivais-5.mai.10/AP
O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg
O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg

A batalha que não ganhou foi a da limpeza de Nova York. Apesar de ter melhorado algo, a cidade é vista como a mais suja dos Estados Unidos. As calçadas têm vários trechos deteriorados em Manhattan. A cidade tem vários aspectos descuidados.

Não é possível se fazer tudo nem ganhar todas as batalhas, mas Michael Bloomberg as enfrentou.

Steve Koonin , diretor do Centro de Ciência Urbana e Progresso da Universidade de Nova York - CUSP, ressalta a visão de Bloomber, que falava: "Você não pode mudar o que não pode medir".

Para conhecê-la, o prefeito construiu uma ampla base de dados: a data-driven. E teve uma visão de futuro e ampliação de horizontes para além dos mercados tradicionais: imobiliário, de financiamento e de seguros.

Criou bases para atrair mais engenheiros, cientistas e inventores. Investiu na criatividade e no conhecimento. Um dos seus esforços mais ambiciosos, segundo Koonin, foi a iniciativa às Ciências Aplicadas.

O CUSP é o pioneiro no campo da informática urbana.

Bloomberg foi atrás da tecnologia aplicada à melhoria da qualidade de vida das cidades. Misturar novas tecnologias voltadas diretamente para a solução de problemas urbanos. Com visão ousada para os próximos 50 anos. O que falta a todas as metrópoles brasileiras, que ainda não se despertaram para isso. Nossas bases de dados e soluções são fraquíssimas.
Michael Bloomberg foi democrata antes de concorrer. Mudou e reelegeu-se pelo Partido Republicano. Deixou o partido , ficou independente e apoiou Obama em 2012.

Assumiu logo depois do "11 de Setembro" e conduziu a cidade durante a crise econômica de 2008.

Foi valente, visionário, contraditório. Ganhou a batalha contra a gordura trans e perdeu a dos refrigerantes açucarados gigantes.
Batalhou. Fez transformações inegáveis.

Sua gestão vale um estudo cuidadoso, porque teve concretude e resultados na luta por melhorar a qualidade de vida das pessoas nas grandes cidades.

Teve a coragem de defender o controle de armas nos EUA e de se contrapor à poderosa NRA, Associação Nacional de Rifles.

É o prefeito com a visão mais global.

E o mais importante. Percebeu, como os memoráveis prefeitos de Nova York, La Guardia e Robert Moses, que os parques públicos tornam a vida mais saudável e mais alegre.


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