Folha de S. Paulo


Questão escolar

SÃO PAULO - Impressiona a capacidade da gestão Alckmin de fabricar jovens manifestantes. Desde o ano passado, quando tentou uma reorganização escolar que redundou na demissão do secretário de Educação, o governo paulista tem sido desastrado ao lidar com os secundaristas. Como um típico pai de adolescente, que subestima a capacidade de reação do filho, o Estado vem perdendo a razão até quando reúne argumentos a seu favor.

No último episódio da série, o secretário de Segurança Pública ordenou a entrada da PM no Centro Paula Souza, que administra as escolas técnicas de São Paulo, sem o mandado de reintegração de posse. Levou um toco do Tribunal de Justiça, que já havia se manifestado em direção semelhante à época das invasões, ocupações, o que o leitor preferir, das escolas estaduais.

Estudantes entenderam a decisão como cheque em branco e se deram a ousadia de voos maiores, como tomar a Assembleia Legislativa. Pedem CPI, quer dizer, a cabeça do presidente da casa, Fernando Capez (PSDB), envolvido no caso da máfia das merendas. O governo viu manipulação, reação ao impeachment, disputa partidária.

Não falta tecnologia ao Estado para lidar ao menos com a questão policial. A PM tem um protocolo de negociação com os movimentos sem-teto, que brotam como mato em São Paulo. Reintegrações de posse acontecem quase diariamente com razoável tranquilidade, sem que isso vire notícia. Não há segredo, só diálogo, duro, dada a diversidade e as evidentes intenções políticas dos envolvidos.

Mas o Estado parece não querer reconhecer que a lista de lideranças com as quais é preciso negociar cresceu. E para um lado ainda meio desconhecido, de gente jovem que dissemina e absorve ideias, até de forças políticas tradicionais, como se fossem selfies.

Em um momento de tensão social no país, é bom que o governo comece a tentar mudar isso. Em tese, é o lado da disputa onde a maturidade está.


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