Folha de S. Paulo


Vende-se auto

SÃO PAULO - Alvo de denúncia no âmbito da Lava Jato, Fernando Collor (PTB-AL) teve R$ 4 milhões, dólares e euros apreendidos em sua casa em Brasília. Mas foram seus brinquedos mais caros que estamparam as primeiras páginas: uma Lamborghini Aventador, um Porsche Panamera e uma Ferrari 458 Italia.

Em termos de garagem, o ex-presidente, responsável pela abertura do mercado automotivo no início dos anos 90, superou até o ex-multibilionário Eike Batista. Na sua vez, Eike viu a polícia levar outra Aventador e um Porsche equivalente, Cayenne, mas nada de Ferrari, só um Smart.

Muitos se lembraram da fatídica Fiat Elba que empurrou Collor para o cadafalso. Confesso que primeiro me vieram à mente as peripécias do boyzinho de Brasília que acabou no Planalto: voltas clandestinas numa Kawasaki Ninja e um imprudente cavalo de pau de caminhão em pista de teste da Scania, na Suécia.

O mundo mudou e, apesar de não parecer, o Brasil também. A presidente atual prefere bicicleta nas manhãs de domingo e empolga-se com o "futuro", como descreveu a volta sem motorista que deu em carro conduzido por computador, na Califórnia.

É ingênuo imaginar que PF e PGR não premeditaram o impacto dos carrões se deixando fotografar à frente da Casa da Dinda. O mesmo raciocínio será feito para explicar que o primeiro político no exercício do mandato a ter as vísceras expostas na Lava Jato seja também o único, até aqui, presidente impedido do país.

O caso contra Collor, na verdade, é um dos mais robustos de toda a operação, coerente com o passado do senador e suficiente para lhe dar a pole position dos investigados. Mas o recado, se óbvio para deputados, senadores e líderes do Congresso, é gritante para a presidente. Sim, o país tem como tirá-los do poder.

Deve ter muita gente neste momento limpando gaveta e apagando e-mail em busca do decoro perdido. Após esta semana, talvez seja o caso também de esvaziar a garagem.


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