Folha de S. Paulo


O racha

O nonsense da situação fechou o seu círculo: os algozes é que se dividem, incapazes de entender-se sobre suas acusações porque desentendidos sobre fatos e problemas de que nem são parte.

Também não é nos acusados que se vê o cenário de "salve-se quem puder". Os conflituosos do PSDB, em torno de impeachment "sim" ou "não", é que se veem na contingência de cada qual achar um jeito de salvar a face, no caso de mau resultado na reunião que debaterá posições do partido.

No desarranjo do PSDB há um ponto delicado, o mais forte dos motivos para que seja buscada, de parte a parte, a aparência de unidade e entendimento. Além de estarem os pró-impeachment em confronto com os três principais hierarcas do partido –Fernando Henrique, José Serra e Geraldo Alckmin–, a divisão contrapõe os três e Aécio Neves.

O PSDB é o partido do individualismo, ali ninguém dá apoio verdadeiro a ninguém, mas as pernas se chutam sob a mesa onde o vinho é servido. O confronto ostensivo entre a cúpula e o atual protagonista da ação partidária enfraquece-o, na relação com outros partidos oposicionistas e talvez além disso. O que não é bom para Aécio nem para o partido.

Mas, ainda no âmbito partidário, é bom para José Serra, que tem motivos e potencial para não dar como certa a escolha de Aécio na sucessão presidencial de 2018. O próprio racha no PSDB o comprova. Na obcecada e irada investida pela queda de Dilma, Aécio tem demonstrado o quanto preserva da imaturidade política do seu tempo de governador de Minas no Rio.

Na posição que tem hoje dentro do PSDB, como pretenso candidato à sucessão presidencial, e no eleitorado como figura mais projetada da oposição, Aécio não poderia relegar entendimentos com a cúpula para definição da linha partidária, como não deveria precipitar-se em posições políticas e públicas desprovidas de fundamentações responsáveis.

Se jamais mostrou melhor preparo em outros ramos, Aécio demonstra agora que ainda não o tem para a política em nível mais alto do que o comum.

É SIMPLES

Na condição de presidente da Fiesp, Paulo Skaf é beneficiário direto do Imposto Sindical. Já por aí lhe falta outra condição, a moral, para acusar as centrais trabalhistas de se oporem à terceirização por estarem "preocupadas com a arrecadação sindical".

Paulo Skaf foi mais longe como aproveitador dessa arrecadação. Valeu-se dela ao utilizar a Fiesp para se promover e lançar-se candidato ao governo paulista, nas eleições de 2014.

É simples: se a terceirização não fosse de conveniência das empresas, por que o empresariado a desejaria?

É simples: se empresas demitem empregados e contratam, para substituí-los, mão-de-obra fornecida por outras empresas, só pode ser porque gastarão menos do que usando empregados seus; logo, a mão-de-obra fornecida tem salários inferiores aos dos empregados demitidos, o que resulta em perda no padrão geral de salários.

É simples: terceirização diminui a pouca distribuição de renda havida nos últimos anos e favorece ainda maior concentração.


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