Folha de S. Paulo


Amor e avanço civilizatório

Estou apaixonado pelo Sushi. O ganso entrou na minha vida há pouco tempo e jamais havia pensado em plumados como pets para interação à la cães ou gatos.

Enganei-me profundamente. Conquistei inspiração para incrementar a relação ao assistir a duas reportagens no YouTube com histórias desses palmípedes como mascotes. Resolvi tentar com o Sushi. A ave, de início, fez jus à fama de bravo, grasnou alto e lascou algumas bicadas fortes.

Não desisti. Respondi com oferta de comida e de carinho.Desconfiança e agressividade superadas, começou o romance. Quando me aproximo do seu espaço, Sushi grasna intensamente e só para quando atravesso o portão.

ilustação tiago elcerdo

Sento e ele pula no meu colo. Adora receber carinho. Devolve com leves bicadas.

Também começamos a passear juntos. Levo-o para a área onde estão o pônei e as cabras. Um estranho cortejo serpenteia pelo pequeno pasto, desfrutando também de um piquenique à base de cenouras, couve, repolho, maçã e banana. Cada um, ao caminhar, escolhe a comida preferida.

Sashimi, a companheira de Sushi, é mais reservada. Despreza contato físico, mas não rejeita oferta de comida em mãos humanas. Folhas de couve despontam como iguaria predileta.

Em tempos atuais, não poderia deixar de expressar minha alegria com a proibição ao foie gras na cidade de São Paulo. Ignoro análises sobre motivações políticas, comentários jocosos, os argumentos disparatados e as ofensas a quem, como eu, abomina práticas como alimentação forçada de gansos e patos.

Evidentemente, há uma lista infindável de abusos e contradições que a sociedade humana precisa enfrentar em sua relação com o mundo animal. Importante também que o tema entre na agenda dos debates públicos. Avanços civilizatórios não ocorrem sem custos ou solavancos.

Ocorrem em uma velocidade inferior à desejada.


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