Folha de S. Paulo


Passeio, enjoo e vômito

Adotamos Bianca em 2008. Era uma filhota quando a encontramos na porta do Teatro Alfa, distribuindo cumprimentos a quem chegava para assistir à peça infantil. Na verdade, avistei-a, de relance, no momento em que deixávamos o carro no estacionamento.

Minutos depois, lá estava ela, à entrada do prédio, saracoteando em busca de interação com o público. Sem resistir ao apelo de dezenas de crianças correndo pelo saguão, a pequena driblou a segurança e se misturou à algazarra.

Ilustração Tiago Elcerdo

Foi reconduzida à calçada. Após o espetáculo, nós a reencontramos. Estava aninhada às pernas de uma jovem que distribuía panfletos publicitários. À exaustão, a moça relatava a quem passava que a cachorrinha morava no estacionamento e que a entrada do teatro era o seu playground.

Decidimos resgatar a cadela. Já no carro, ganhou de Silvia, minha filha, o nome Bianca. A nova mascote parecia assustada com a movimentação inusitada e, num primeiro momento, salivou bastante. A caminho do veterinário para um check-up inicial, vomitou no banco traseiro.

Começou então o ritual. Bastava entrar no carro e rodar algumas quadras e Bianca despejava a comida semidigerida. Descobri ser cinetose o nome pomposo para tal enjoo.

Como não estava a fim de lavar o banco a cada viagem canina, saí em busca de dicas para evitar o mal estar. Poderia recorrer a medicações humanas ou evitar que ela ingerisse alimentos ou água algumas horas antes de embarcar.

Com o passar dos anos, Bianca, hoje aos seis anos, finalmente fez as pazes com o carro e parou de vomitar nas viagens motorizadas. Mas alguns vira-latas da matilha, menos habituados à vida sobre quatro rodas, ainda enfrentam a cinetose.

Descobri recentemente que já existe medicação específica para cães e gatos atacados pelo mal do movimento. Para mim, foi uma descoberta um tanto tardia —teria poupado o estofamento de sofrer com o enjoo da cachorrinha.


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