Folha de S. Paulo


Sombra de Atenas

RIO DE JANEIRO - O decreto que oficializou o caos financeiro do Estado do Rio criou o temor de que o Rio-16 reprise em parte Atenas-04. A Olimpíada é apontada como um dos estopins da longa crise na Grécia.

Isso explica a reação do prefeito Eduardo Paes em tentar desvincular dos Jogos a calamidade pública do Estado. Um malabarismo sem sentido. O evento é citado nos três artigos do breve decreto.

O prefeito sempre buscou se alinhar à considerada exitosa Barcelona-92. Agora teme ver seu trunfo político anulado pela incompetência de seus aliados.

É justo que o prefeito tente definir responsabilidades. Mas um dos principais ativos para trazer a Olimpíada para o Rio foi a já desgastada "integração entre governos federal, estadual e municipal". O legado será um só.

Sua reação inicial ao decreto estadual foi dizer que a Prefeitura do Rio tem "absoluto conforto fiscal e financeiro". Talvez Paes queira que o cidadão carioca separe sua vida municipal da estadual.

Por essa lógica, os pacientes do Hospital Municipal Souza Aguiar deveriam relevar o tiroteio deste domingo dentro da unidade –afinal, como ele disse, "a prefeitura não tem responsabilidade sobre a segurança".

O prefeito pode estar feliz por concluir seus corredores de ônibus. Mas a Olimpíada terá um legado grego se o Estado seguir atrasando salários pendurado em empréstimos para construir um metrô prometido ao COI na área mais rica da cidade.

Em vez de se fugir da crise, Paes deveria fazer sua parte definindo como vai bancar as arenas do Parque Olímpico pós-Jogos.

Após doze anos de abandono, o parque olímpico de Atenas virou abrigo para refugiados. Até para isso Paes terá de se esforçar. Seu parceiro privado na área, Carlos Carvalho, já disse que lá não é lugar de pobre.


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