Folha de S. Paulo


Direitos

O relaxamento da prisão do jogador Lucas Perdomo, investigado no caso de estupro de uma adolescente no Rio, parece um bom sinal.

Num raro episódio em que a polícia opta por tirar alguém da cadeia, a delegada Cristiana Bento sinalizou buscar culpados, não bodes expiatórios. Mas a soltura não ocorreu sem a habitual insensibilidade da polícia carioca com vítimas e investigados.

A liberação foi pedida no início da tarde de quinta (2). Ainda assim, Perdomo foi passar a noite no sistema penitenciário em vez de aguardar a decisão da Justiça na carceragem da delegacia, onde já estava havia quatro dias.

Como disse Bento, o relaxamento "não quer dizer que Lucas seja inocente". Mas é lamentável que ele tenha experimentado Bangu 10 a mando da delegada que afirmou na mesma entrevista: "Até agora não temos provas da participação dele."

É um equívoco num inquérito que começou errado. A apuração do caso já havia passado por um delegado que buscou desde o início indícios contra a vítima e não enxergou o crime flagrante. O comportamento refletia a opinião daqueles que relativizavam o evidente delito.

Assim, é justificável a forte pressão na denúncia da "cultura do estupro" e cobrança por punição. Este, no entanto, costuma ser o cenário propício para o prejuízo da presunção de inocência e do direito de defesa.

O desprezo pela oportunidade do contraditório ficou evidente nas ameaças sofridas pela advogada Renata Barcellos, que atende Perdomo, numa rede social."Desejo para os advogados 'chave de cadeia' que aconteça consigo o mesmo que seu 'cliente inocente' cometeu com outras vítimas", dizia uma delas.

Bento assumiu o caso dizendo o óbvio. "Está provado o estupro." Cabe à delegada indiciar quem o cometeu, incluindo ou não Perdomo, sem gerar novas vítimas.

Via-crucis depois do estupro


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