Folha de S. Paulo


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A atividade econômica segue piorando no Brasil. Prognósticos para o resultado do PIB se aproximam de -3% em 2015. Para 2016, alguns já preveem -2%.

São números que apontam para uma das piores recessões das últimas décadas, mas seu custo pode ser ainda mais grave e duradouro. Decisões estratégicas de longo prazo começam a ser influenciadas por percepções muito negativas de que o país teria entrado em rota inexorável de deterioração.

Muitos se surpreendem quando digo esperar a volta de crescimento em alguns anos, por exemplo. Nesse clima de catástrofe definitiva, esquecem que esse não é o fim do mundo e que a economia brasileira, apesar da gravidade dos problemas, está muito mais forte do que 20 anos atrás, por exemplo.

O mercado de consumo hoje oferece escala de produção e já é comparável ao de grandes países europeus como França e Itália. O investimento das corporações globais se tornou estratégico. Não somos mais o país no qual faziam investimentos "oportunistas", que entravam e saíam conforme a perspectiva de três anos.

As subsidiárias das multinacionais aqui são enormes e importantes para sua posição global. Nesse contexto, as empresas, nacionais e estrangeiras, voltarão em momento oportuno a elevar investimentos.

Já a forte desvalorização do real, apesar dos problemas que causa, reabriu o mercado internacional a muitos segmentos industriais brasileiros, antes excluídos por perda de competitividade.

É evidente que o câmbio não resolve o problema no longo prazo. Para o país voltar a progredir, é fundamental fazer as reformas que elevem o nível de produtividade e competitividade.

Mas, em meio a tanto pessimismo, é preciso ver não só os enormes problemas como as enormes forças do país, entre elas: a solidez das instituições, muito superior a dos emergentes, com Judiciário independente, imprensa livre, eleições democráticas (gostemos ou não do resultado, que pode sempre ser alterado em eleições seguintes), o amadurecimento crescente da população ao demandar, como mostram as pesquisas, inflação baixa e controlada e maior qualidade de serviços públicos e privados; a dimensão do mercado interno; as reservas internacionais de mais de US$ 370 bilhões; a melhora substancial de nossa conta corrente com o exterior prevista para os próximos anos graças ao aumento do saldo comercial.

Não se pode subestimar a crise gravíssima, que deve ser enfrentada de forma vigorosa com um ajuste fiscal completo e reformas pró-crescimento, mas é preciso evitar atitudes de fim de mundo. Elas podem levar a decisões na vida
pessoal ou empresarial que, aí sim, comprometerão de forma duradoura o futuro do país.


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