Folha de S. Paulo


Hora H

"O que está acontecendo com Hamilton?"

"Ele está desfocado?"

"Está desmotivado depois de dois títulos seguidos?"

Com poucas variações, perguntas nessa linha começaram a surgir depois do GP do Bahrein. E explodiram nos últimos dias, depois da corrida de Xangai.

Três corridas, três vitórias de Rosberg, 75 pontos do alemão contra 39 do inglês.

Sim, são fatos. Mas olhar para esses números não basta. É preciso descer ao detalhe de cada corrida.

Austrália, abertura do Mundial. Hamilton chega a uma marca emblemática: meia centena de poles. Comemora de braços abertos, uma certa marra, como quem diz "eu sou o cara". Durou pouco. Foi surpreendido na largada pelas Ferraris, perdeu posições e depois viu a Mercedes se embananar na estratégia. Vitória de Rosberg, com Hamilton em segundo. Após 18 meses, o alemão volta a liderar o campeonato.

Bahrein, segunda etapa. Hamilton vai lá e crava mais um pole, a 51ª. Novamente, durou quase nada. Rosberg tomou a ponta na largada, e Hamilton foi acertado por Bottas, que surgiu feito um torpedo no meio da Mercedes. O inglês caiu para nono, fez uma prova de recuperação e cruzou a linha de chegada em terceiro lugar.

China, terceira prova da temporada, domingo passado. Na véspera, a Mercedes anuncia a troca da caixa de câmbio de Hamilton. Como punição, cinco posições no grid. No treino classificatório, o inglês enfrenta problemas com a unidade de potência. Sem marcar tempo, larga em último. O tricampeão é excelente piloto, mas não faz milagres. Chega em sétimo, trancado atrás de Massa.

Uma derrota na conta: a da Austrália. As outras duas foram causadas por um adversário amalucado e por problemas técnicos.

Não, Hamilton não está desfocado. Coincidentemente, sofreu azares em dois GPs consecutivos. E, para piorar sua situação, Rosberg está naquelas fases em que tudo dá certo.

"Rosberg vai ser o campeão?"

Normalmente essa é a pergunta seguinte.

Pode ser, claro. Tem carro para isso, está aproveitando as oportunidades. E, a esta altura, Hamilton certamente já não encara a situação com o mesmo bom humor –e certa dose de deboche– que exibiu ao chegar ao Bahrein.

O inglês já faz contas, já dá entrevistas mais tensas. Dia desses, num bizarro espetáculo de auto-exaltação, disse que "promove a F-1 muito mais do que qualquer outro piloto já fez".

Hamilton é muito mais piloto do que Rosberg, tem tudo para virar o jogo.

Mas não vai ser fácil. E essa tentativa de virada tem tudo para tornar o campeonato ainda melhor.

Quanto mais isso demorar, melhor para todos nós.


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