Folha de S. Paulo


Comparações

Merece reflexão a frase dita por Hakkinen, nesta semana, após a chefia da Mercedes ter repreendido seus dois pilotos pelo acirramento da rixa interna.

"Hamilton e Rosberg não são os únicos pilotos que podem vencer ao volante de uma Mercedes", declarou o bicampeão.

Hakkinen tem toda a razão. Mas a frase não pode ser entendida como a cantilena do "piloto não faz diferença".

De fato, boa parte do grid –ou todo ele, talvez com exceção do Maldonado– teria chances de conquistar o título se sentasse num carro prateado.

A diferença técnica é astronômica.

No treino classificatório de Abu Dhabi, Rosberg foi 0s814 mais rápido que Raikkonen, o "melhor do resto".

Na corrida, a folga na linha de chegada foi quase 20 segundos –se não poupasse o carro, o alemão poderia fazer um pit stop a mais e ainda assim ficaria à frente da Ferrari.

Na tabela do Mundial, a Mercedes fechou o ano com 703 pontos, mais que a soma da segunda e da terceira colocadas, Ferrari (428) e Williams (257).

Tenho a convicção de que um Ericsson, um Nasr, um Sainz ou um Rossi lutaria pelo título sentando num foguete como este.

Mas não, não é pelo alto que devemos comparar sujeitos que aceleram carros de corrida.

Prefiro muito mais observar o que um piloto pode fazer num carro ruim. É isso que verdadeiramente os distingue.

Vettel foi o piloto do ano, na minha opinião, porque tirou leite de pedra. Em uma Ferrari apenas mediana, venceu três corridas, conquistou uma pole e uma volta mais rápida. Já Raikkonen, seu companheiro, quase não conseguiu ficar à frente de Bottas no Mundial.

Alonso e Button, juntos, marcaram apenas 27 pontos. Tenho dúvidas se outra dupla conseguiria o mesmo pilotando a carroça da McLaren e da Honda.

Por este mesmo motivo devemos olhar Bottas com atenção. O finlandês foi quarto colocado em 2014 e quinto em 2015 a bordo de um Williams que não arranca suspiros de ninguém –já que é para comparar, Massa ficou em sétimo no ano passado e em sexto nesta temporada.

Pilotos ainda não importantes, fundamentais. O talento ainda faz diferença.

Mas é preciso haver um mínimo de respeito na convivência dentro dos boxes. Daí a bronca de Wolff, o chefe da Mercedes. Segundo o austríaco, um de seus pilotos pode perder o emprego se o clima continuar agressivo como neste final de campeonato.

"Se sentirmos que um de nossos pilotos não está alinhado com nossa filosofia, isso será levado em conta quando formos pensar na nossa dupla", declarou o dirigente.

(Em tempo: duvido que isso aconteça.)


Endereço da página: