Folha de S. Paulo


Triste ironia em Interlagos

O primeiro sinal de mudança está na entrada de Interlagos, logo após o túnel sob a Reta dos Boxes: placas de grama recém-colocadas, ainda soltas, talvez prontas para serem transplantadas para outro lugar na semana que vem.

Poucos metros depois, a primeira obra real aparece. Uma obra imponente, um prédio envidraçado de seis andares para a administração do autódromo. Mais à frente, o que mais interessa às equipes: o novo paddock. Os escritórios triplicaram de tamanho, o espaço para circulação ficou mais amplo e, para 2016, uma nova área de hospitalidade será concluída.

Interlagos melhorou. Não incorporou a suntuosidade e a megalomania besta de circuitos como Xangai e Sepang, mas também não remete mais a um autódromo do século passado.

É um autódromo plenamente apto a receber a F-1.

Pena que seja por um fim de semana, pena que seja uma ilusão.

Encerrado o GP, a grama nova talvez desapareça –deve ser isso, porque todo ano plantam novas placas–, os bonitos móveis alugados pelas equipes serão devolvidos e o autódromo voltará à sua rotina normal. Que não é exatamente brilhante. Pelo contrário.

O automobilismo brasileiro agoniza.

Noves fora a Stock Car e a F-Truck, que enchem autódromos país afora, restam categorias para endinheirados se divertirem, torneios de carros velhos e campeonatos de base com tecnologia defasada.

Montadoras não apoiam, empresas de produtos automotivos dão de ombros, a garotada carece de ídolos para se inspirar. Não por acaso a capacidade de público no autódromo foi reduzida há dois anos e ali ficou.

É uma triste ironia.

Interlagos, quando apertado, quase mambembe, fervia. As arquibancadas viviam em festa, pilotos do país lutavam por vitória e faziam o mundo perguntar qual seria o nosso segredo –era a "água", brincava Stewart.

Interlagos, no nível de grandes circuitos do mundo, murcha. Lembra os estádios construídos para a Copa em Manaus, Cuiabá e Brasília: estrutura demais para realidades esportivas de menos.

O desnível fica gritante. Para deixar claro: a culpa não é da obra, mais que necessária, mas de quem deixou o automobilismo do país chegar a este ponto.

MOTOGP

Não dá para não pitacar sobre o que houve em Valência, no último domingo.

Rossi fez uma das maiores corridas que já vi, passou meio pelotão em três curvas, mas não conseguiu o título porque os espanhóis se uniram numa patriotada desleal.

Sua irritação ao final da prova tinha toda a razão de ser.

"Aquela última volta foi um mal para o esporte", definiu o italiano.

Lorenzo e Márquez talvez um dia olhem para trás e se envergonhem do que fizeram.


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