Folha de S. Paulo


Novas mãos

Rosberg mostrou que pode ganhar de Hamilton no mano-a-mano, a McLaren afunda ainda mais na crise, Raikkonen está com um pé fora da Ferrari, Nasr aparece na mira da Williams, as equipes testaram por dois dias na Áustria nesta semana...

Nada disso foi tão noticiado como a mais nova "venda da F-1".

Sim. De novo. Há exatos 20 anos a F-1 debate o assunto.

A história começou em 1995. Foi quando, em troca de um desembolso anual, a FIA repassou os direitos comerciais da categoria para a FOM, comandada por Ecclestone.

A partir daí, tornou-se difícil acompanhar, quase impossível compreender. Empresas de mídia, conglomerados financeiros, bancos e fundos de investimentos sucederam-se nas vendas e compras de pedaços desses direitos.

Quem acompanha a F-1 esbarrou em algum momento com nomes como SLEC, Morgan Grenfell, Hellman and Friedman, Speed, EM.TV, Kirch, Lehman Brothers, JPMorgan Chase, Bayerische Landesbank, CVC.

Via de regras, três cenários se repetiram com cada um desses atores.

O primeiro: no momento da transação, Ecclestone foi dado como ultrapassado, carta fora do baralho, rainha da Inglaterra.

O segundo: algum tempo depois, fundos, bancos e que tais saíram de cena em meio a tiroteios judiciais, acusações de traição, menos dinheiro em caixa, jurando ódio eterno à F-1.

O terceiro: o mesmo Ecclestone ultrapassado e carta fora do baralho ficou ainda mais bilionário.

Mas, por dois motivos, a movimentação de agora merece uma atenção especial.

Ecclestone vai completar 85 anos em outubro. E, embora aparente ótima saúde, talvez não tenha fôlego para continuar viajando o mundo daqui a 10 anos.

E quem quer chegar é do ramo: Stephen Ross, dono do Miami Dolphins, com aporte financeiro de um grupo do Qatar.

Ross, além de ser do esporte, tem outra qualidade perseguida pela F-1: é americano.

Isso não quer dizer que a categoria se tornará popular por lá. Após tantas décadas de tentativas infrutíferas, este colunista acha que isso nunca vai acontecer.

As respostas são outras, como destacou Paul Weaver, colega do "Guardian": dinheiro e marketing.

A F-1 não sabe se vender nos dias atuais. Comporta-se com arrogância, como se fosse a única opção de entretenimento no planeta. Não entende as redes sociais. Bloqueia vídeos em sites como o Youtube, na contramão do que fazem as principais ligas esportivas do planeta.

Ross tem 75 anos. Começou sua fortuna, estimada pela "Forbes" em US$ 6,5 bilhões, depois de perder o emprego em Wall Street e pedir um empréstimo de US$ 10 mil à sua mãe.

É uma espécie de Ecclestone com visão do marketing esportivo americano.

Talvez seja disso que a F-1 precise.


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