Folha de S. Paulo


O fim do arco-íris

A metáfora com o futebol é tentadora. Esqueça a F-1 arte. O negócio é F-1 de resultado.

Engenheiro de Massa nos tempos da Ferrari e hoje diretor de performance da Williams, Rob Smedley foi de bem-vinda sinceridade em entrevista à revista "Autosport".

O inglês foi questionado sobre o desempenho da equipe nesta temporada. Mesmo sem brilhar em nenhum momento e com apenas o quinto maior orçamento da categoria, a Wiliams é terceira colocada no Mundial de Construtores.

Tem 81 pontos. Bem atrás dos 242 de Mercedes e dos 158 da Ferrari. Mas já abrindo alguma distância para os 52 da Red Bull.

Massa e Bottas não lideraram nenhuma das 371 voltas já disputadas no Mundial. A posição que o brasileiro mais frequentou nas seis etapas deste ano foi o quinto lugar –por 87 voltas. O finlandês andou mais em quarto –79.

Mesmo assim, repito, lá está a Williams, numa honrosa terceira colocação da tabela.

Smedley não teve nenhum pudor em admitir que isso é resultado de uma tática de resultados.

"Decidimos ir buscar os pontos em vez de ficar correndo atrás do fim do arco-íris ou achar que vamos fazer algo marcante e fenomenal. Essa é uma lição que ficou do ano passado. Se há pontos sobre a mesa, vamos buscá-los", disse Smedley.

E completou: "É por isso que vocês verão a Williams fazendo corridas chatas até o fim do ano".

A estratégia é compreensível.

Ao fim da temporada, o que define a fatia de cada equipe no bolo orçamentário da F-1 é a pontuação do campeonato. Não são largadas corajosas, ultrapassagens ousadas ou táticas arriscadas.

Nos paddocks mundo afora circula um velho cálculo, nunca confirmado ou desmentido, que estabelece média de US$ 1 milhão para cada ponto conquistado no término do Mundial.

Se uma equipe se propõe a disputar a temporada com essa conta na cabeça, fica difícil mandar o piloto atacar para tentar aquele sexto lugar na última volta. É mais prudente se contentar com o sétimo e garantir o dinheiro no caixa.

Mas da mesma forma que a Williams tem o direito de pensar assim, fãs e jornalistas podemos nos aborrecer.

É emblemático que as declarações de Smedley tenha vindo às vésperas de um GP do Canadá.

Foi exatamente em Montreal, no ano passado, que Massa fez uma de suas melhores corridas pela Williams. Largou em quinto e brigava pelo pódio quando tentou uma ultrapassagem sobre Pérez e foi tirado da corrida.

Massa não pontuou naquele GP, mas empolgou o público durante toda a corrida. No domingo, ele tem boas chances de pontuar, mas correndo burocraticamente. É a ordem por lá.

Lembram do célebre "o gol é um detalhe", do Parreira?

Pois é.


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