Folha de S. Paulo


Tentativa de resgate

Mosley é mais um homem que viu várias realizações serem ofuscadas por uma grande besteira.

Pode não ter sido um brilhante presidente da FIA, mas entende do assunto. Foi piloto (medíocre) na juventude, fundou a March, tomou conta dos negócios da F-1 ao lado de Ecclestone, comandou a entidade máxima do automobilismo por 16 anos, de 1993 a 2009.

Como todo homem de poder, colecionou inimigos. E por obra deles, foi centro de um escândalo. O mundo viu publicadas num tabloide fotos suas como protagonista de uma orgia com temática nazista.

Um choque. A carreira foi para o buraco. Mosley nunca mais foi respeitado como dirigente. Pouco depois, deixou a federação pela porta dos fundos.

Mas é preciso separar as coisas.

Um dos últimos atos do inglês, por exemplo, foi para aumentar o grid da F-1, já prevendo os tempos difíceis que depois se concretizaram.

Meses antes de sair do cargo, abriu uma concorrência para atrair novos times à categoria.

O resultado não foi o melhor possível, longe disso. Mas, neste caso, é mais justo olhar o copo meio cheio. Os já enxutos grids dos últimos anos seriam ainda mais melancólicos e vexatórios sem Hispania, Lotus/Caterham e Marussia.

Mais: o fato de duas terem ficado pelo caminho, além da natimorta USF1, deveu-se muito mais à situação econômica mundial e aos gastos astronômicos da categoria do que a alguma decisão do cartola.

Pois agora Mosley ressurgiu das cinzas para dar uma sugestão das mais interessantes. A base do projeto é uma ambição antiga dele, o teto de custos, que nunca conseguiu implementar.

A forma que agora é diferente. Mosley sugere um sistema de contrapartida. Em troca de corte de custos, liberdades técnicas.

Em outras palavras: as equipes receberiam benefícios técnicos em troca de ajudarem a jogar para baixo os gastos da categoria.

Quem gastar menos ganhará mais liberdade dentro do regulamento técnico, hoje tão repleto de amarras e restrições que tornam virtualmente impossível qualquer sacada revolucionária.

"Imagino que, em pouco tempo, todas as equipes estariam dentro do teto. Perceberiam que é possível construir carros avançados e promover um bom campeonato gastando apenas US$ 100 milhões cada", disse o inglês em entrevista à revista alemã "Auto Motor und Sport".

Hoje, o orçamento de uma equipe média não é menor do que US$ 240 milhões.

Sim, a ideia do velho Max tem toda a lógica.

Uma F-1 mais barata atrairia novas empresas e novas equipes. E isso aumentaria a satisfação dos fãs, que só querem uma coisa: boas corridas.

Com grids esquálidos e um fosso separando as grandes das pequenas, fica bem difícil.


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