Folha de S. Paulo


Olho do furacão

Se o bom desempenho da Ferrari e o esconde-esconde de Mercedes e Red Bull foram a tônica da primeira bateria de testes pré-temporada, o foco agora é outro.

A McLaren.

Em Barcelona, que desde ontem recebe a segunda sessão de treinos, a curiosidade está concentrada nos carros de Button e Alonso. E nos motores japoneses que os empurram.

Quaisquer que sejam os resultados na pista, boa parte das notícias de F-1 no domingo levarão nos enunciados o nome da equipe inglesa. Para o bem ou para o mal.

O motivo remete a Jerez de la Frontera.

Lá, o primeiro ensaio da retomada do binômio McLaren-Honda foi um retumbante fracasso.

Enquanto a Mercedes percorreu 2.280 km, a McLaren só conseguiu completar 350 km. Foi a mais lenta todos os dias. Sua melhor marca, obtida por Button, foi 6s8 pior que o tempo de Raikkonen, que comandou a sessão. Um abismo.

Para a Honda, que não fornece motor para mais ninguém, o resultado foi ainda mais calamitoso. Carros empurrados pelos Mercedes coletaram dados por 4.353 km, distância aproximada entre a uruguaia Montevidéu e Boa Vista, em Roraima. A Honda, claro, ficou naqueles mesmos 350 km –uma viagem do Rio a São Paulo.

Muito pouco para qualquer montadora, pior ainda para quem está em pleno trabalho de reconhecimento do terreno.

Não por coincidência, a McLaren usou permissão especial da FIA e desembarcou na última segunda-feira em Barcelona para "filmagens publicitárias".

As aspas, carregadas de desconfiança, são de quem viu tudo de perto: o jornal local "Mundo Deportivo".

Sim, porque o que a equipe fez foi testar. Ou pelo menos tentou. "Mal conseguiu dar seis voltas", relatou o diário catalão.

Como desgraça pouca é bobagem, há outro obstáculo na vida da escuderia.

A McLaren não conta com nenhum "title sponsor", nenhum patrocinador principal. E não será com desempenhos tão pífios que conseguirá seduzir alguém.

Pode parecer contraditório, mas não é. Bom resultado em Barcelona não implicará começo de temporada positivo para a McLaren. Mas desempenho ruim como o de Jerez selará um princípio de Mundial complicadíssimo.

(E neste caso, admito curiosidade para ver como Alonso lidará com a situação.)

"NOVO SCHUMACHER"

Para o bem da escuderia que comanda, Arrivabene deveria parar de comparar Vettel ao maior ídolo ferrarista.

"Em alguns pontos, ele parece uma cópia de carbono de Schumacher", afirmou o dirigente italiano. "Quem conhece os dois reconhece algumas semelhanças impressionantes. Esperamos que os resultados também sejam parecidos."

É só isso que ele quer?

Pressão é tudo que o tetracampeão não precisa após um 2014 tão complicado e frustrante. E o histórico da F-1 já mostrou que comparações assim nunca dão certo.

Acredito que não seja preciso citar nenhum nome.


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