Folha de S. Paulo


A cultura do boato

Há dois momentos em que a boataria explode na F-1.

Por força de tradição, na semana do GP da Inglaterra, a tal da "silly season" –algo como "temporada das maluquices".

Por falta de assunto, no intervalo entre um Mundial e outro. Agora, portanto.

É do jogo, a categoria está acostumada e há décadas trabalha com isso. Mais: os rumores muitas vezes são usados como balões de ensaio, para testar ideias, para checar as reações de jornalistas e do público. Ecclestone é mestre nisso.

Ocorre que há boatos que se repetem todos os anos, mas a imprensa teima em publicar. Ou por amnésia. Ou por preguiça. Ou por acomodação. Ou por má fé. Ou um pouco de tudo isso junto e misturado.

Sendo assim, segue um pequeno guia de sobrevivência à boataria da F-1, para que você não compartilhe besteiras nas redes sociais, não passe vergonha e não ajude a propagar cascatas pré-fabricadas.

Não, a Volkswagen não está preparando secretamente sua entrada na F-1. Nem a Audi. Ouço isso desde que comecei a frequentar autódromos, e nunca houve iniciativa séria das duas montadoras em direção à categoria. O Mundial de endurance é a menina dos olhos dos alemães, eles dizem isso abertamente, o tempo todo. F-1? Esqueçam.

Não, Interlagos não vai deixar o calendário. Não enquanto Ecclestone viver. O GP Brasil é um dos mais lucrativos para o inglês. Não por coincidência, permanece na categoria há tanto tempo, mesmo com a estrutura e o entorno do autódromo deixando a desejar. Além disso, o contrato atual, assinado em 2013, tem validade até 2020.

Não, Barrichello não vai correr em nenhuma equipe como substituto de alguém que eventualmente se machucar ou for sacado por deficiência técnica ou motivo financeiro. O brasileiro é respeitado no circuito, tem o recorde de GPs e não cansa de se convidar para essas vagas. Mas já são três anos longe da F-1, a categoria mudou muito de lá para cá. Os carros e motores são muito diferentes daquela Williams de 2011. E há uma série de jovens talentosos na fila de espera.

Não, a F-1 não terá uma segunda fornecedora de pneus. Infelizmente. Sou da tese de que quanto mais competição, em todas as áreas, melhor para o esporte. Mas as equipes não pensam assim. Acham que a concorrência implicaria mais testes. Consequentemente, mais despesas. Isso se resolveria facilmente, mantendo a atual agenda de treinos. Mas não tem jeito. O monopólio forçado que vigora desde 2007 vai continuar.

Quais desses boatos surgirão em 2015? Todos, podem apostar.

DERRAPADA

Ao se referir à segunda colocação de Emerson no GP Brasil de 1978, a coluna da semana passada colocou a prova no lugar errado. A festa foi em Jacarepaguá, claro, e não em Interlagos.


Endereço da página: