Folha de S. Paulo


Piada sem graça

Em 1993, a Ferrari era uma piada. Um catadão de administradores, técnicos e engenheiros de competência duvidosa e dois pilotos que nunca brilharam de verdade na categoria, Alesi e Berger.

Não por coincidência, não venceu nenhum GP naquela temporada. Não por acaso, no meio daquele ano trouxe Jean Todt, a primeira peça do que se tornaria o "dream team" da categoria, a equipe mais dominante da história da F-1.

Vinte e um anos depois, a Ferrari voltou a enfrentar uma temporada sem vencer. Seus pilotos eram de primeira linha: Alonso e Raikkonen. O problema é que todo o resto era de terceira.

Terminou a temporada em quarto lugar, com 216 pontos, ou míseros 31% do conquistado pela Mercedes. Além de não vencer, não conseguiu nenhuma pole. Seus pontos altos nas estatísticas do ano foram a melhor volta de Raikkonen em Mônaco e os pódios de Alonso na China e na Hungria. Mais nada.

A Ferrari foi uma piada em 2014.

Não por coincidência, está se mexendo em dois campos de batalha.

O primeiro é do mercado. Depois da chegada de Maurizio Arrivabene (recuso-me a fazer um trocadilho), demitiu pelo menos três técnicos do seu primeiro escalão.

Saíram o engenheiro-chefe, Pat Fry, o projetista-chefe, Nikolas Tombazis, e o analista de desempenho dos pneus, Hirohide Hamashima.

No começo desta semana, veio a notícia da chegada de Jock Clear para a vaga de Fry. Um movimento importante e em dois atos.

Porque reforça Maranello. Sim, é uma aposta. Mas uma boa aposta. Clear nunca ocupou essa função, mas tem gabarito para tal. Trabalhou com Villeneuve no título de 1997 e depois construiu uma sólida carreira na BAR e suas sucessoras.

O segundo ato: a saída do inglês enfraquece Brackley. Até semanas atrás, Clear era o engenheiro de Hamilton na Mercedes. É um golpe pesado, direto, certeiro.

O outro campo de batalha é o da política. A Ferrari tenta derrubar o congelamento no regulamento dos motores. A Mercedes, por motivos óbvios, é contra.

"O regulamento é um labirinto. Parece que foi escrito por um bando de bêbados em um bar", disse Sergio Marchionne, o novo CEO da escuderia italiana. Ele só esquece de dizer que, entre os bêbados, havia gente trajando vermelho.

A história aconselha a não subestimar a força da marca italiana nos bastidores. Vencedora ou perdedora, dominadora ou humilhada, sabe que a F-1 depende dela para sobreviver e joga com isso, há décadas. Normalmente, sai das quedas de braço celebrando o resultado.

Pode até não dar certo. Debelar o poderio da Mercedes não será tarefa fácil. Mas está claro que a Ferrari não acha graça nenhuma em ser piada.

Um feliz 2015 para todos!


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