Folha de S. Paulo


Generais

"Um certo general, particularmente inábil, que conseguiu perder várias batalhas mesmo contando com mais soldados em suas fileiras, foi sarcasticamente descrito por historiadores como tendo uma incrível capacidade de arrebatar derrota das garras da vitória. É um pequeno resumo do que fez Hamilton na China, no último domingo."

Tomei emprestado trecho de um artigo da revista "Autosport" de 10 de outubro de 2007.

Dois dias antes, o então novato-sensação da F-1, prestes a fazer história e se tornar campeão num ano de estreia, o mais jovem de todos os tempos, cometeu um erro crasso.

Ele liderava o GP e tinha duas batalhas fáceis pela frente. A primeira: com um quinto lugar, eliminaria Raikkonen da disputa pelo Mundial. A segunda: mesmo marcando um ponto a menos do que Alonso, asseguraria o título depois de fazer apenas 16 corridas na categoria.

Surpreendentemente maduro, centrado, impecável até então, não conseguiu. Errou.

Escapou na entrada do pit lane, quando rumava para trocar pneus. Atolou na brita. Teve de abandonar a prova. Chegou ao GP seguinte com menos folga na tabela. Terminou o ano como vice-campeão.

Como o tal general, arrebatou derrota das garras da vitória.

Todos temos nossos Maracanazos pessoais, nossos 7 a 1. Todos ficamos frustrados, machucados, traumatizados com nossas próprias tragédias. Todos tentamos evitar que elas se repitam. Esta será a missão de Hamilton em Abu Dhabi.

A batalha deste final de semana é fácil. Ao volante do melhor carro do grid, só precisa chegar em segundo. Neste ano, em 14 dos 18 GPs que passaram, ele conseguiu resultados que lhe dariam o título no domingo.

Mas em outros 4 GPs...

É com isso que Rosberg conta. Sua tarefa é muito mais complicada, mas longe de ser impossível. Ele já a cumpriu em Melbourne, Montréal, Hockenheim e Spa.

Há ainda o histórico de Abu Dhabi. Hamilton soma uma vitória, um segundo lugar, um sétimo e dois abandonos. Números que, de novo, podem trazer esperança a Rosberg.

Seria justo um título do alemão? Depende.

Se a pontuação desta etapa fosse normal, bastaria a Hamilton um sexto lugar, independentemente do resultado do companheiro-rival.

Com a pontuação dobrada, o inglês tem de chegar em segundo para não depender de azares do outro.

Será esta a minha régua. Se Rosberg for campeão porque Hamilton ficou aquém do sexto lugar, considerarei que o título ficou com quem realmente mereceu. Estará a salvo da estripulia matemática da pontuação dobrada, afinal.

Qual será a estratégia de Hamilton? Ofensiva a todo custo, como Napoleão? Ou seguirá Sun Tzu, para quem "a invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque"?

A batalha de Abu Dhabi começa às 11h de domingo.

fseixasf1@gmail.com


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