Folha de S. Paulo


Perguntas

Os acordos estão feitos, só falta anunciar. Alonso na McLaren, Vettel na Ferrari.

Vai ser curioso. Muito curioso. São movimentos que suscitam perguntas complexas. Mudanças que podem gerar respostas reveladoras.

Vettel conseguirá dar a volta por cima, após um ano tão apagado?

A questão vai além do resultado na tabela de classificação. Trata da afirmação de um tetracampeão (tetra!) como piloto de F-1.

Ou não.

A desconfiança que perseguiu o alemão em seus quatro títulos mundiais ganhou espaço neste 2014, seu primeiro ano de fracasso. "Na primeira temporada com um carro que não é perfeito, ele foi superado pelo Ricciardo", resumiu Briatore, nesta semana, em entrevista à rádio Rai.

Em Maranello, dificilmente Vettel encontrará o tal carro perfeito. A equipe passa por uma restruturação profunda, de cima para baixo. Ninguém sabe quem manda. O outro piloto é um encostado. Caberá ao alemão comandar essa reconstrução, missão tão ou mais complicada do que a encarada por Schumacher a partir de 1996.

Vettel é piloto para isso? Vai conseguir? As oito temporadas e os quatro títulos lhe deram essa maturidade?

Não tem jeito: a jornada de Vettel envergando macacão vermelho colará nele o rótulo de merecedor de glórias ou embuste. Sim, pode ser injusto. Mas justiça é prática pouco comum no paddock.

E como será o retorno de Alonso ao time que infernizou em 2007?

Naquela temporada, o espanhol travou um duelo feroz com Hamilton. Chegou ao ponto de pedir para Dennis sabotar o carro do companheiro, na Hungria. Depois, repassou à FIA e-mails que recebeu de De la Rosa, então piloto de testes, com informações sigilosas vindas da Ferrari.

Detonou, ali, um dos piores escândalos da história da F-1, o caso de espionagem batizado de "Stepneygate" –referência a Nigel Stepney, engenheiro ferrarista que vazou os dados.

Punida pela FIA, a McLaren perdeu todos os pontos conquistados no Mundial de Construtores e recebeu multa de US$ 100 milhões.

A pior punição, porém, veio na pista. A guerra interna na McLaren jogou o título no colo do ferrarista Raikkonen. O finlandês foi campeão com 110 pontos, enquanto Alonso e Hamilton ficaram empatados, com 109.

Dennis jurou nunca mais trabalhar com Alonso: "Não nos falamos mais". Alonso declarou que nunca se sentiu em casa na McLaren e afirmou que sua confiança no time era "zero".

Seis anos depois, a McLaren precisa de alguém para desenvolver o motor Honda. E ele tem urgência em sair da Ferrari e tentar volta a uma luta pelo título.

Questões à parte, não dá para não lembrar de um antigo samba de Bezerra da Silva, filosofia pura, útil em vários momentos da vida: "A necessidade obrigou você a me procurar/ Você era orgulhosa, mas a necessidade acabou com a sua prosa"...

fseixasf1@gmail.com


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