Folha de S. Paulo


Felipes

Nasr escolheu uma ótima porta de entrada. A melhor, talvez.

A Sauber não tem a pressão das grandes nem a inépcia das nanicas. É organizadíssima. Comandada na pista por uma mulher, Monisha Kalternborn, que cada vez mais se destaca entre os chefes de equipe. Administrada na fábrica por um dos últimos garagistas da F-1, Peter Sauber, tão apaixonado por automobilismo que batiza seus carros com a sigla C, a inicial do nome de sua mulher, Christine.

Não tem estrutura para vencer corridas. Mas tem para os propósitos que um estreante busca: mostrar serviço, exibir talento, aparecer para a categoria.

Já foi trampolim para alguns pilotos. Massa não conta, porque já foi colocado lá pela Ferrari. Falo de Frentzen, Heidfeld, Kubica, Vettel, Pérez.

"Depende da porta." Em quase duas décadas cobrindo esporte a motor, foi esta a resposta padrão que desenvolvi sempre que questionado sobre "o próximo brasileiro com chances de ser campeão na F-1". (Acreditem, é uma pergunta diária.)

Nos últimos 15 anos, dois dos maiores talentos brasileiros no automobilismo se queimaram porque escolheram portas erradas. Campeão de tudo antes da F-1, Zonta chegou lá como companheiro de Villeneuve, sócio da BAR. Destruidor de recordes na base, Pizzonia entrou numa equipe em pé de guerra, a Jaguar.

Deu no que (não) deu.

Nasr já superou esta fase, pois. Agora é preciso chegar chegando. A F-1 não tem paciência para avaliar talentos. Em meia temporada, se tanto, já rotula um piloto como "potencial campeão" ou "apenas mais um".

Aí é que está o busílis.

Em três temporadas na GP2, o brasiliense nunca brilhou. Em 2012, temporada de estreia, foi décimo colocado. Em 2013, ficou em quarto no campeonato. Só foi vencer corridas em 2014 e vai fechar o ano como vice-campeão.

Não causou. Não instigou. Não despertou especial atenção dos chefes de equipe. Chega à F-1 muito por causa do patrocínio do Banco do Brasil, cobiçadíssimo numa era de crise da categoria, e dos interesses de Ecclestone em manter acesa a chama do esporte no Brasil.

Esta chave terá que ser virada para 2015.

O OUTRO

No domingo passado, a última vitória de Massa na F-1 completou seis anos. A categoria já o enxerga mais como um veterano útil do que como alguém com futuro. Tornou-se um Fisichella, um Trulli, um Webber.

O ânimo que tomava conta do então ferrarista no GP Brasil do ano passado, vislumbrando tempos melhores na Williams, sucumbiu aos números: é oitavo colocado no Mundial, com 83 pontos, enquanto o companheiro, Bottas, aparece em quarto, com 155.

A chegada de Nasr marca o início de mais uma passagem de bastão entre os pilotos brasileiros. E é pelo menos simpático, fagueiro até, ter o paddock do velho Interlagos como testemunha.

fseixasf1@gmail.com


Endereço da página: