Folha de S. Paulo


Uma história, enfim

Sala de imprensa de Suzuka, vésperas do GP do Japão de 1999. Hakkinen e Irvine iriam decidir o título. Do lado do finlandês, a chance de se consolidar como um dos grandes. Já o irlandês vivia a ânsia de livrar a Ferrari de um jejum de 23 anos sem título.

Os dois ali, lado a lado, diante de uma plateia de jornalistas sedentos por notícias, frases bombásticas, provocações, tentativas de desestabilizar o adversário.

O que aconteceu? Nada. Uma das entrevistas mais insossas que já presenciei. Anticlímax total. Não parecia decisão de campeonato, não havia sinais de que tanta coisa estava em jogo.

Sala de imprensa de Monza, ontem. Entrevista coletiva com seis pilotos, praxe nas quintas-feiras que antecedem GPs. Na bancada superior, Chilton, Bottas e Magnussen. Na inferior, Hamilton e Rosberg, separados por Alonso.

Não preciso dizer para onde as atenções estavam voltadas, quem foram os mais fotografados, filmados e questionados pelos jornalistas.

Mas talvez precise descrever as expressões de Hamilton e Rosberg: carrancudos, concentrados, medindo cada palavra que ouviam e falavam.

"Quer dizer que agora podemos correr mais próximos uns dos outros e se tirarmos o cara da frente, tudo bem? Podemos então correr tranquilos quanto a isso? Ou será que haverá penalização se acontecer de novo?", lançou Hamilton.

Questionado se ainda confia no companheiro, respondeu: "Confiança é uma palavra muito forte."

No outro extremo, literalmente, Rosberg foi bem mais econômico. "Pedi desculpas e pronto. Vamos seguir em frente."

Pelo paddock, pilotos dizem que o alemão exagerou na agressividade em Spa, mas entendem que o regulamento é interpretativo demais.

A favor do líder do campeonato, propositadamente ou não, todo o empenho da FIA em reduzir o número de punições, deixando os pilotos mais à vontade para brigarem na pista.

O fato é que temos um campeonato disputado e uma rivalidade declarada, algo raro nos últimos anos. Uma FIA menos chata, menos burocrática, talvez sentindo alguns efeitos de perda de popularidade. Dois antagonistas de personalidade forte, ótimos pilotos, sem papas na língua. Boas histórias sendo escritas e contadas, enfim.

Mais: ao não punir Rosberg –aliás, ao não abrir investigação– a FIA abre um belo precedente.

Não poderá apontar o dedo para Hamilton caso o inglês devolva, em Monza ou nas outras seis corridas da temporada, a pancada de Spa.

PARABÓLICA

Colocaram asfalto na área de escape da Parabólica, uma das mais desafiadoras curvas do automobilismo.

Um de seus grandes méritos era justamente punir o erro.

O sujeito que deu esta ordem deveria ser denunciado à Unesco por agressão a um Patrimônio Mundial da Humanidade.


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