Folha de S. Paulo


Precisamos abandonar o ensino fragmentado

Junior Lago - 23.fev.2016/UOL
***INTERNET OUT*** ATENÇÃO: PROIBIDO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO UOL SÃO PAULO - SP - BRASIL - 23/02/2016 – EDUCAÇÃO - ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL ARTE DE SER - A Associação Educacional Arte de Ser é uma instituição sem fins lucrativos, que busca promover cursos que tragam temas para desenvolver uma Cultura de Paz. Dentro do espírito de colaboração, a participação dos pais e de toda comunidade faz parte do ideal de gestão participativa da Arte de Ser. Aprofundando este caminho, existe o Conselho de Pais, para fortalecer a união da escola com as famílias que querem colaborar com o crescimento da Comunidade Arte de Ser. O ideal é que cada colaborador, cada educador, cada família e, principalmente cada criança, sinta-se pertencente e atuante, sempre em sintonia com os propósitos da Arte de Ser, em clima de união e força. A direção geral da escola é gerida por um Conselho Consultivo formado por representantes do seguinte tripé: Mantenedora (responsável pela administração geral), Pedagógico (rege o corpo de educadores) e Grupo de Estudos How-To-Live (que visa aprofundar a filosofia da ciência da Yoga no cotidiano escolar, seguindo os ensinamentos de Paramahansa Yogananda para a área de educação). Vida simples com pensamentos elevados, é um dos principais conceitos de Yogananda para uma vida em harmonia consigo mesmo e com o universo. E é a partir deste princípio a Escola Arte de Ser trabalha para a construção de um mundo mais pacífico e feliz. Foto: Junior Lago/UOL
Crianças participam de atividade promovida por associação educacional em São Paulo

"Mamãe, por que o tempo passa tão rápido?"

Meu filho Dante, 7, me fez essa pergunta no fim do ano passado. Eu soube, de cara, que o questionamento era motivado pela tristeza relacionada à iminente partida de seu primo Enzo da praia onde passávamos as férias.

Tentei começar a explicar de um jeito meio inseguro, e ele me interrompeu: "Estava pensando nisso porque na aula de filosofia a professora pediu pra gente pensar sobre questões da vida, de filosofia. Essa é uma, né?".

Sim, Dante, é uma questão de filosofia, e também de matemática (contagem dos dias), de história (marcação da passagem do tempo, registro de datas importantes), de geografia (o fenômeno da sucessão interminável de dias e noites) e até de empatia (tentar compreender por que os pais do primo precisavam ir embora).

Isso rendeu uma linda conversa com ele e me remeteu ao livro que, por coincidência, estava lendo naqueles dias: "O Foco Triplo —uma Nova Abordagem para a Educação", de Daniel Goleman, autor do best-seller "Inteligência Emocional", e Peter Senge, professor do MIT, especializado em pensamento sistêmico.

A obra trata do desafio das escolas em adotar a chamada ASE (aprendizagem social e emocional) e é dividida em capítulos escritos por Goleman, sobre temas como os desafios que a tecnologia impõe à empatia nas relações humanas, e por Senge, a respeito da inteligência sistêmica.

O livro é interessante do começo ao fim, mas os temas desenvolvidos por Senge (que conversam com os levantados por Goleman) me chamaram particular atenção.

O especialista fala das pesquisas educacionais produzidas nas últimas duas décadas que têm revelado que todos nós nascemos com a capacidade de fazer conexões, unir as pontas de diferentes desenvolvimentos que ocorrem ao nosso redor.

Ele cita o exemplo de um vídeo em que três meninos de seis anos, alunos de uma escola com foco na educação sistêmica nos Estados Unidos, mostram um diagrama criado por eles próprios que representa as causas (palavras maldosas) de suas brigas e uma das formas de solucioná-las (pedido de desculpas).

Mas Senge afirma que, sem ferramentas que estimulem a evolução da habilidade de fazer esse tipo de conjectura, a "inteligência sistêmica inata permanece não cultivada, como ocorre com a inteligência musical inata se as crianças nunca tiverem acesso a instrumentos musicais".

O problema, continua o autor, é que o modelo educacional ainda dominante, em que prevalecem currículos fragmentados, com temas apresentados em disciplinas separadas, vai na contramão do estímulo ao pensamento sistêmico.

Em vez de incentivadas "a compreender os desafios da vida real", as crianças são submetidas, desde muito cedo, à "pressão de ir bem em tarefas dadas pelo professor".

Isso provavelmente limita o desenvolvimento de sua capacidade de lidar com questões do seu presente, como os desentendimentos com colegas e o bullying, e do futuro, como a flexibilidade para trabalhar em equipe e resolver problemas impostos pelo avanço rápido da tecnologia.

Segundo Senge, a saída é termos uma educação mais focada no caráter interdisciplinar dos diversos temas e nas experiências cotidianas. Menos aulas amarradas, com professor, quadro negro e giz de cera, e mais projetos feitos em grupo.

Países como Finlândia e Cingapura, referências de sucesso na educação, caminham nessa direção.

O Brasil está numa etapa anterior de definir o que os alunos devem aprender em cada ano de sua vida escolar.

Tem pela frente o desafio de avançar rapidamente nisso e, paralelamente, encarar a necessidade de acabar com o ensino fragmentado.


Endereço da página: