Folha de S. Paulo


Loteamento no subsolo

São Paulo - Mudou de patamar a discussão sobre as irregularidades que envolvem a administração da cidade de São Paulo. Não se trata mais de ficar ciscando entre os gastos com frangos para merendas ou com aspirinas em precários postos de saúde.
O último capítulo da história trouxe à cena as modernas e milionárias infovias e o maior administrador de fundos do mundo -um grupo norte-americano que mexe com valores equivalentes ao PIB brasileiro.
A trama começou há alguns meses e passa pelos buracos de rua paulistanos. Suspeita-se agora que muitos foram abertos para a implantação de fibra óptica e embutiram também propinas. O dinheiro público pode ter sido escoado não para o esgoto, mas para o bolso de alguns.
O caso está sendo investigado pela Justiça dos Estados Unidos. Lá a lei pune diretores de empresas que subornem autoridades estrangeiras. Aqui os administradores e envolvidos no episódio negam as acusações.
O processo está em curso, mas mostra mais uma vez a fragilidade e a falta de transparência no trato da coisa pública pelos governos. Isso para dizer o mínimo. Segundo a própria prefeitura, os buracos para a colocação das fibras ópticas começaram a ser feitos sem que houvesse autorização.
Parece uma terra de ninguém. Qualquer um pode chegar e ir loteando espaço (no caso, o subsolo) para seu uso privado. A mesma sensação ficou pairando quando se descobriu que as concessionárias de rodovias estaduais estavam colocando cabos ópticos nas margens das estradas. Recebendo receita por isso e não pagando nada ao Estado.
O governo reconheceu que não se lembrou de incluir no contrato de concessão formas para repartir entre o público e o privado o uso desses recursos. A mesma coisa aconteceu em âmbito federal. Agora a União tenta, com atraso, mudar essa equação.
No silêncio do subsolo parecem estar fluindo milhões. E não se trata de esgoto. Infelizmente.


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