Folha de S. Paulo


Soldado Ryan cai em Pequim

São Paulo - Os cinemas de Pequim retiraram de cartaz ontem o premiado "O Resgate do Soldado Ryan". Temem ser atingidos pela onda de fúria que toma conta do país desde que um míssil da Otan golpeou a embaixada chinesa em Belgrado.
Contando com o apoio e até o estímulo estatal, os protestos contra os Estados Unidos foram os maiores do gênero em muito tempo. A embaixada norte-americana foi apedrejada e cercada por 20 mil manifestantes.
Desde o conflito na praça Tiananmen, há dez anos, não havia tamanha concentração no país. Os fatos dos últimos dias fazem parecer mais remotas as imagens do histórico jogo de pingue-pongue Nixon-Mao nos anos 70. Décadas de aproximação, visitas mútuas parecem se desmanchar.
A Otan diz que o bombardeio à embaixada foi um erro, provocado por uso indevido de um mapa desatualizado -de 92. Defende-se fazendo contas. Das 9.000 bombas ou mísseis despejados sobre a Iugoslávia, houve equívoco em 12 casos, o que representa uma taxa de erro de "uma fração de 1%". Uma porcentagem que, segundo Belgrado, matou 196 pessoas.
Essa taxa "mínima" de erro provoca agora uma tensão inesperada entre os dois mais poderosos do século 21. Ambos os países se encontram em posições peculiares, ainda assimilando as consequências da crise iniciada em 97.
Embora exibam números invejáveis de crescimento, EUA e China podem enfrentar turbulências nos próximos meses. Muitos economistas prevêem um estouro na bolha de euforia norte-americana.
Já a China tenta ocupar o espaço deixado pelo Japão, que não consegue sair da recessão, e luta para não desvalorizar sua moeda. Não se sabe se poderá controlar os protestos políticos em curso ou se as manifestações podem até se voltar contra o governo.
Se a bolha furar nos EUA ou se a moeda cair na China, o mundo verá outra onda de fúria financeira e a intensificação de outra guerra, a comercial. Com respingos para todos os lados, inclusive por aqui.


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