Folha de S. Paulo


Handebol feminino do Brasil dá passo para trás no Mundial

Carmen Jaspersen/Associated Press
Duda é contida por adversárias de Montenegro em partida na qual o Brasil foi eliminado do Mundial
Duda é contida por adversárias de Montenegro em partida na qual o Brasil foi eliminado do Mundial

O handebol feminino do Brasil fechou a temporada dando um passo para trás. Após ter chegado ao inédito título mundial em 2013, desta vez a seleção terminou em 18º lugar a competição, encerrada no fim de semana, na Alemanha.

Como um esporte pode despencar dessa forma? Não há apenas um motivo, pois queda desse calibre resulta de uma série de fatores. O principal deles, sem dúvida, deve ser atribuído ao comando da modalidade, que não mostrou competência para dar sequência a um projeto inicialmente vitorioso.

A CBHb (Confederação Brasileira de Handebol), comandada por Manoel Oliveira há 28 anos, um dos mais longevos cartolas do esporte nacional, além de falhar no trabalho com a seleção feminina, viu-se envolvida nos últimos tempos em denúncias de irregularidades em prestação de contas e outros problemas de gestão. Enfim, a repetição de um comportamento que impede o desenvolvimento dos esportes no país.

A ascensão e queda da seleção feminina aconteceu dentro de um período de seis anos. A escalada começou no Mundial-2011, em São Paulo, quando terminou em quinto lugar, e seguiu com o sexto posto na Olimpíada de Londres-2012.

A glória veio no ano seguinte, na Sérvia, com o título mundial. Dois anos depois caiu nas oitavas do novo Mundial diante da Romênia. Na Rio-2016, praticamente repetiu a campanha olímpica, com o quinto lugar.

Foi o canto do cisne na seleção de uma geração talentosa, que se mantinha ativa e em evolução com várias de suas principais estrelas defendendo clubes na temporada europeia, a mais desenvolvida da modalidade.

Meia dúzia delas chegou a integrar um mesmo time, o Hypo No, da Áustria, que era dirigido pelo dinamarquês Morten Soubak, também técnico da seleção brasileira. Essa política servia como uma espécie de treinamento permanente.

O Brasil sentiu os obstáculos da renovação. Das atletas que participaram da Olimpíada no Rio, oito não estiveram neste Mundial na Alemanha. Além disso, a CBHb não conseguiu manter Soubak. O novo treinador, o espanhol Jorge Dueñas, assumiu o posto sem tempo para realizar uma programação ao menos razoável de preparação.

Esta falha, sem dúvida, contribuiu para o fracasso. Em contrapartida, cria a expectativa de que a seleção, mesmo renovada, poderá render mais no futuro caso seja submetida a uma treinamento ideal, melhor planejado.

O próximo alvo da seleção é o Pan de Lima, em 2019, classificatório para Tóquio-2020. Coincidentemente, na mesma temporada haverá o Mundial, também importante, mas a vaga olímpica deve ser prioridade.

As seleções europeias dominam o handebol feminino. Desde o início dos Mundiais, apenas em duas oportunidades (em 1995, com a Coreia do Sul, e em 2013, com o Brasil) elas não chegaram ao título. Em 2015, a Noruega foi a vencedora. Agora, a competição terminou com vitória da França, que derrotou a Noruega na decisão.

Superar o bloco europeu é tarefa muito difícil, não impossível como já provou a seleção brasileira. Mas as atletas dependem do respaldo de uma boa estrutura, ou seja, do trabalho da cartolagem. Planejamento, gestão de alto nível e transparência são fundamentais, embora não anotem os tentos. Estes ficam por conta das meninas.


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