Folha de S. Paulo


No boxe da Olimpíada, capacete ainda é dúvida e minissaia opcional

O torneio olímpico masculino de boxe no Rio terá rostos mais ensanguentados, como as rotineiras cenas nos combates profissionais? Ou tudo vai ser como nos Jogos anteriores, com a cabeça dos pugilistas cobertas por capacetes protetores?

A resposta virá logo, bem antes dos Jogos, porque o protetor de cabeça, aquele capacete de couro estofado, pode ser abolido. A decisão está sob a responsabilidade do COI. A cartolagem da entidade, no entanto, parece defensiva, talvez por temer possíveis pressões da comunidade internacional contra a violência no esporte em geral.

No boxe profissional o equipamento não é utilizado, exceto nos treinamentos com luvas –forma de proteger os atletas para que possam chegar na luta intactos– , e no amadorismo era uma das exigências das regras até pouco tempo atrás, mas agora só vale para menores de 18 anos.

A regra do uso do capacete continua válida para as mulheres. Entretanto, elas ainda têm de fazer uma opção, aliás, mais amena: escolher entre usar bermuda ou minissaia, que é uma vestimenta feminina.

A maioria opta pela bermuda, mais confortável. Há aquelas que preferem a minissaia, como foi o caso das chinesas no último evento internacional da modalidade. O treinador chinês alegou que era muito mais feminino e diferenciava do boxe masculino. Opinião que tem divergências.

A intenção da medida, adotada em Londres-12, era que todas as atletas usassem minissaia e o visual ficasse claro para o torcedor, evidenciando que se tratava de luta entre mulheres ou homens. Como a escolha ficou a critério de cada lutadora, o objetivo acabou não sendo atingido, embora tenha levado um pingo de graça para os ringues.

Foi a Aiba (Associação Internacional de Boxe) que decidiu banir o tradicional capacete dos seus eventos. Ela é responsável pelo boxe não profissional e também pelo torneio olímpico. A nova norma, no entanto, também precisa ter o aval da COI.

Essa indefinição é motivo de preocupação porque estamos a menos de oito meses da Olimpíada e os futuros participantes ou pretendentes –torneios seletivos estão programados para o primeiro semestre de 2016– precisam se adaptar ao novo estilo.

Durante uma luta com uso de protetor de cabeça, o pugilista sempre está atento para corrigir a posição do capacete, que facilmente sai do lugar e muitas vezes prejudica a visão. Sem o capacete ele luta mais livre, concentrando-se em outros detalhes.

Os brasileiros vão lutar em casa, com apoio da torcida, fator que pode ser importante para influir no resultado dos combates. Além do incentivo do público, a partir do Rio o torneio olímpico também terá novas regras para apuração do resultado.

Cada luta contará com um árbitro sobre o ringue e cinco juízes fora para pontuação, mas valerão apenas os registros de três deles ao final de cada assalto. Ao ser acionado, o próprio sistema eletrônico de marcação dos pontos define os três aparelhos válidos.

Ao término da luta, a pontuação é anunciada, bem como são revelados os nomes dos juízes responsáveis. Bem diferente do sistema anterior, no qual os cinco juízes tinham seus comandos de pontuação e quando três coincidiam, automaticamente o ponto era validado.

Até agora, apenas um brasileiro obteve classificação para os Jogos, o experiente Robson Conceição, que em Pequim-08 e Londres-12 foi o 17º. colocado. Na condição de anfitrião da Olimpíada, o Brasil tem garantidas cinco vagas no masculino e três no feminino, uma em cada uma das categorias das mulheres. No masculino são dez categorias de peso.

Na delegação do Brasil nos Jogos de Londres, o boxe foi o esporte que deu o maior salto de qualidade, ao conquistar três medalhas, uma de prata com Esquiva Falcão, e duas de bronze, com o irmão dele Yamaguchi e com Adriana Araújo.

O torneio feminino estreou naqueles Jogos. Antes deles, o boxe do Brasil tinha subido apenas uma vez ao pódio olímpico, com o bronze de Servílio de Oliveira na Cidade do México, em 1968.

Por anos e anos a fio, o boxe enfrentou campanhas que tinham como meta banir a sua prática ou tirá-lo dos Jogos Olímpicos. A alegação era uma só, a violência que alguns enxergavam nesse esporte. Mas nenhuma tese vingou e a modalidade continua firme, com suas emoções (plasticidade, golpes, quedas e sangue) que muitos abominam, mas que despertam emoções em esportistas mundo afora.


Endereço da página:

Links no texto: