Folha de S. Paulo


Esporte e Olimpíada, algo fora de lugar?

Os ajustes políticos em função da campanha da reeleição de Dilma Rousseff (PT) continuam a interferir, no mínimo de modo atabalhoado, no andamento da área de esportes no país. Chega ao ponto de o governo federal sequer reagir, como se nada apontasse na direção dele, à declarações como as do "aliado" Eduardo Paes (PMDB), prefeito do Rio, afirmando que o Brasil precisa tomar vergonha na cara e investir de maneira mais enfática no esporte de alto rendimento.

Nesse cenário é interessante registrar que a Olimpíada de 2016, no Rio, tem orçamento estimado de R$ 38 bilhões (em breve deve anunciar atualização), sendo que a quase totalidade deste valor sairá dos cofres públicos. Dinheiro à beça, levando-se em conta a situação econômica do país, que exige bom-senso na definição de investimentos.

E o prefeito quer mais para a prática esportiva de alto rendimento, já? Um sonho possível em outras circunstâncias, após superação de tempos marotos que, ao contrário do desejo dos brasileiros, devem se alongar.
Inalcançável, no entanto, na atualidade, diante das necessidades prementes.

As estrepolias do governo federal no setor começaram com a surpreendente escalação do novo ministro do Esporte, George Hilton (PRB), que causou polêmica por se tratar de político e pastor religioso que nunca participou de ação no mundo esportivo.

Em entrevistas concedidas ontem, o ministro Hilton declarou  que não haverá atrasos em obras olímpicas.  Afirmou ainda que o Ministério do Esporte é o protagonista no âmbito do governo federal na organização dos Jogos Olímpicos do Rio.

Não vinha sendo assim até agora. Para o novo ministro, por exemplo, a Casa Civil, que estava cotada como peça-chave no projeto olímpico, vai funcionar como interlocutora para ações integradas de vários ministérios com papel nos Jogos.

Ao assumir a pasta, há cerca de três semanas, Hilton havia manifestado o desejo de dar atenção especial ao esporte social, educacional e de inclusão, para garantir acesso à prática esportiva para os jovens e para a população brasileira. Sobre a Olimpíada, ele disse que manteria o apoio aos atletas que vão disputá-la e aos projetos em andamento e ao legado. Só não explicou como conseguirá verba para obra tão completa.

Outra novidade é a de que Dilma Rousseff deve substituir o general Fernando Azevedo e Silva, atual presidente da APO (Autoridade Pública Olímpica), consórcio formado entre União e os governos do Rio de Janeiro para tocar a preparação e realização da Olimpíada. Especulação ou verdade?

Azevedo e Silva foi colocado no cargo –vago com a saída de Márcio Fortes, que se demitiu– por indicação do ex-ministro do Esporte Aldo Rebelo (PCdoB, partido que comandou o Ministério do Esporte na última década) como uma solução técnica e profissional.

Ex-presidente da comissão de desporto militar do Exército, o general carrega a fama de inflexível no trato com dinheiro público. Desde a posse em outubro de 2013, nunca teve seu trabalho questionado publicamente.

Agora, na reta final dos Jogos, quando os gastos são elevados e se exige ainda mais austeridade, vai ser descartado? 

Segundo a Folha noticiou, a presidente Dilma Rousseff quer indicar para o posto o petista Edinho Silva, tesoureiro da campanha da sua reeleição.  O mandato de Edinho como deputado estadual em São Paulo termina no mês que vem.

Apesar do atabalhoado trabalho nos preparativos e na conclusão das obras, que abriram espaço para interesses, palpites e pressões da Fifa, a Copa do Mundo de futebol teve êxito (a vergonha ficou por conta do vexame da seleção).

A Olimpíada, com 28 esportes, mais sofisticada  e obras diversificadas, diferente do futebol, certamente exige mais determinação, cautela e precisão, especialmente com a contagem regressiva se aproximando do prazo final. Por causa disso, o troca-troca nos comandos do esporte nacional provoca desconfiança, uma sensação de que algo está fora de lugar.


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