A Olimpíada de Londres-2012 foi um marco na luta pela igualdade dos gêneros no esporte, simplesmente por ter tido participação feminina em todas as modalidades pela primeira vez na história. O boxe se converteu no último dos esportes a admitir mulheres no evento. Além disso, a Arábia Saudita também enviou moças para competir, fato inédito.
Ocorreram polêmicas, como a do véu islâmico, peça de traje religioso, cuja permissão de uso era defendida por alguns países, mas, é bom deixar claro, não contava com a simpatia de muitas das 204 associações do COI. O véu pode cobrir o rosto ou só a cabeça? Ele oferece risco à saúde? Caiu o véu. Enfim, o tabu acabou quebrado.
A presença da mulher no mundo dos esportes, no entanto, continua gerando conflitos. O Irã, que veta a presença de pessoas do sexo feminino em competições disputadas por homens, puniu com prisão uma jovem de 25 anos. Ela sequer entrou no ginásio.
Ghoncheh Ghavami, de dupla cidadania –britânica e iraniana–, foi detida em junho do lado de fora do estádio de Azadi, em Teerã, onde participava de um ato que reivindicava que mulheres pudessem entrar para assistir a uma partida de vôlei entre as seleções masculinas do Irã e da Itália.
Solta a seguir, e detida posteriormente, quando foi buscar seus pertences que haviam ficado em poder da polícia, Ghavami foi acusada num tribunal local de atividades e propaganda contra a República Islâmica. Acaba de ser sentenciada a um ano de prisão, punição que pode ser reduzida por bons antecedentes.
O Reino Unido acompanha o caso, apesar de não ter representação diplomática permanente no Irã, condição que torna a troca de informações mais lentas. O Ministério do Exterior britânico cobra explicações dos iranianos. Portanto, esse caso deve ter desdobramentos.
É uma oportunidade para que a Comissão da Mulher e o Esporte, criada e incentivada pelo COI, entre no debate. Pouco se fala sobre essa comissão, que aprimora seu trabalho com discussões relevantes, indo de performance a questões médicas da mulher ou equiparação de prêmios em dinheiro dos torneios femininos e masculinos.
Na atualidade, qualquer modalidade que almeje integrar o Programa Olímpico deve ser praticada pelos dois gêneros. O golfe e o rúgbi, que retornarão aos Jogos no Rio, em 2016, estão enquadrados na norma.
Apenas duas modalidades olímpicas são disputadas por um só gênero, paradoxalmente, o feminino: a ginástica rítmica e o nado sincronizado, ambas com características específicas. Será que daria para mudar esse quadro ou os dois esportes não despertam tal interesse?
A controversa situação criada em Teerã antecipa debates sobre questões da mulher no esporte em relação à próxima Olimpíada. Alguns países ainda encontram dificuldades para esmiuçar o tema, especialmente por causa de suas legislações religiosas, ou políticas, ou sociais, que discriminam as mulheres ou as tratam de forma diferenciada, sempre privilegiando o gênero masculino.
É quase impossível a compreensão de certos posicionamentos, atrelados muitas vezes à leis religiosas. São questões complexas, que demandam negociações delicadas e longas.
Em momentos de crise, no entanto, é comum despontarem argumentações que ajudam a mudar a realidade. No caso, espera-se, a favor da consolidação da igualdade de gêneros. Qualquer demanda com êxito, pequeno ou grande, não importa, contempla de maneira positiva todas as vertentes. Sobre isso não há dúvida.