Folha de S. Paulo


Com Macron, enfim há ar fresco no esclerosado ambiente político

Há dois aspectos fascinantes —- e interligados— na vitória de Emmanuel Macron nas eleições franceses deste domingo (7).

Não vou nem falar da derrota da extrema-direita, o que afasta do cenário europeu, pelo menos por enquanto, o fantasma desse anacronismo.

Patrick Kovarik/AFP
Supporters of French presidential election candidate for the En Marche! movement Emmanuel Macron celebrate in front of the Pyramid at the Louvre Museum in Paris on May 7, 2017, following the announcement of the results of the second round of the French presidential election. Emmanuel Macron was elected French president on May 7, 2017 in a resounding victory over far-right Front National (FN - National Front) rival after a deeply divisive campaign, initial estimates showed. / AFP PHOTO / Patrick KOVARIK
Eleitores de Emannuel Macron celebram sua vitória diante do Louvre, em Paris

O extremismo já havia sido batido na Holanda, perde agora na França e não parece ter a menor chance na Alemanha, em setembro. O fim do mundo, tão anunciado, não aconteceu.

Mais fascinante do que esse aspecto é o fato de que venceu um movimento encorpado de baixo para cima, o que é raro, talvez inédito.

É verdade que "En Marche", o movimento vitorioso, foi lançado de cima para baixo pelo próprio Macron que ainda teve o cabotinismo de dar-lhe as iniciais de seu próprio nome.

Mas só teve êxito porque foi abraçado por uma classe média liberal, cansada dos políticos tradicionais e do imobilismo que caracteriza o país. Na interpretação da jornalista Laurence Haïm, exposta a "El País", o que o movimento fez "foi canalizar uma energia de mudança que se percebia na sociedade francesa".

A entrevista Tanguy Bernard, o professor de Economia, a Diogo Bercito na Folha de domingo (7) é uma lufada de ar fresco em um ambiente político asfixiante (no mundo todo, aliás).

De alguma maneira, movimentos com certa semelhança cresceram na Espanha ("Podemos") e na Itália ("Movimento 5 Estrelas"), mas não conseguiram chegar ao poder.

De qualquer forma, convém prestar atenção a esse novo fenômeno porque, cedo ou tarde, acabam chegando ao Brasil.

Segundo aspecto fascinante —e aí no caso específico de En Marche— é que não se trata de uma mobilização antissistema, ao contrário do que acontece na Espanha e na Itália.

Trata-se, na França, de um movimento liberal, vitorioso em um país que tem amor pelo "étatisme".

Ou, posto de outra forma, não se trata de destruir o sistema, mas de corrigir os seus excessos.

É importante, em todo o caso, ter claro que os votos de Macron não são todos pelo seu liberalismo. Ganhou porque o extremismo xenófobo e fascistóide de Marine Le Pen provoca uma rejeição ainda majoritária.

Para que os aspectos fascinantes da vitória de Macron se tornem de fato realidade é preciso esperar as eleições legislativas do mês que vem. Se "En Marche" conseguir uma votação expressiva, Macron estará em condições de tentar operar o milagre de juntar o melhor da esquerda, o melhor da direita e até o melhor do centro, como prometeu na campanha.

Se não conseguir, terá que compor com a velha política e condenar seu movimento a uma senilidade precoce.


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