Folha de S. Paulo


Na cúpula do G20, Brasil tenta aproveitar vácuo deixado por Trump

O chanceler José Serra está aproveitando seus contatos na reunião de chanceleres do G20 em Bonn para tentar fazer o Brasil tirar proveito da confusão com os aliados que o presidente Donald Trump vem semeando.

Exemplo mais nítido: Serra pediu um encontro com seu colega mexicano, Luis Videgaray, para defender que o México se empenhe na aproximação entre a Aliança do Pacífico e o Mercosul, os dois grandes blocos comerciais da América Latina.

Thilo Schmuelgen/Reuters
O ministro das Relações Exteriores, José Serra, é recebido pelo seu colega alemão, Sigmar Gabriel
O ministro das Relações Exteriores, José Serra, é recebido pelo seu colega alemão, Sigmar Gabriel

Será nesta sexta-feira (17) e Serra defenderá também avançar nas até agora lentas negociações com o México para liberalização comercial.

É claro que Serra será diplomático o suficiente para não dizer, piedosamente, que o México deveria ser o maior interessado em aprofundar o relacionamento com o Brasil e com o Mercosul, já que corre sérios riscos econômicos se Trump levar avante sua ameaça de, por exemplo, renegociar o Nafta, o acordo entre EUA, México e Canadá.

A intervenção do México para aprofundar o relacionamento da Aliança do Pacífico com o Mercosul tem toda a lógica: os outros três componentes da Aliança (Colômbia, Peru e Chile) já têm acordos de livre-comércio com o Brasil. Em tese, portanto, não teriam maior interesse nem urgência nessa aproximação.

Outra vítima das críticas de Trump, a União Europeia, ouviu nesta quinta-feira (17) um apelo para que se avance nas negociações de um acordo de livre comércio com o Mercosul, que vem sendo discutido há cerca de 20 anos, sem maiores resultados.

O governo brasileiro considera que é o momento ideal para que a União Europeia dê sinal de vida, ao fazer esse acordo, depois de ser criticada por Trump, de ver aprovada em plebiscito a saída do Reino Unido e das cruciais eleições deste ano na Holanda, França e Alemanha.

É claro que Serra não fez essa análise ao conversar com Federica Mogherini, que é uma espécie de chanceler do bloco europeu, mas deixou claro que o Mercosul espera uma oferta realmente suculenta de abertura na área agrícola para avançar nas negociações.

O protecionismo europeu nessa área sempre emperrou as negociações. O chanceler espera que as dificuldades na Europa convençam seus países a cederem.

Uma terceira área em que o Brasil tem interesse em começar a conversar é com a Rússia, conforme dito nesta quinta-feira ao chanceler Sergei Lavrov. Mais exatamente, o interesse é em discutir cooperação com a Associação Econômica Euroasiática, que a Rússia lidera e é composta também por Cazaquistão, Belarus e Quirquistão.

A conversa será ampliada pelo presidente Michel Temer que visitará a Rússia este ano, talvez ainda no primeiro semestre.


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