Folha de S. Paulo


Somos sem noção

Por fim saiu um ranking em que o Brasil está estupendamente colocado. Ficamos em terceiro lugar, atrás apenas de México e Índia.

Pena que seja o que a firma de pesquisa Ipsos-Mori, autora do levantamento, chama de "Índice da Ignorância".

É injusto, acho eu, usar "ignorância". O índice mede, na verdade, percepções das pessoas sobre a demografia de seu país.

O pesquisado é perguntado, por exemplo, quantas pessoas acima de 20 anos estão com sobrepeso. No Brasil, a média das respostas deu 47% de obesos, quando a realidade é mais triste (56%).

Não acho que seja ignorância não saber a resposta exata para essa pergunta. Ou para qualquer outra do teste, que é mais uma curiosidade do que uma medição científica de ignorância ou conhecimento.

De todo modo, é ruim quando a percepção se distancia muito da realidade. No caso da participação política das mulheres, por exemplo, os brasileiros, na média, responderam que 18% por cento delas estão presentes nesse universo.

Já é um número baixo, mas a realidade é pior: só 10%. Ao acreditar em um número maior, inibe-se uma mobilização para que aumente a participação da mulher no mundo político.

Da mesma forma, mas com signo trocado, o brasileiro erra quando perguntado sobre a porcentagem de imigrantes na população: respondeu 25%, quando o certo é magro 0,3%.

Ao achar que há muito mais imigrantes do que de fato há, surge, sempre em tese, um incentivo à perniciosa xenofobia.

O brasileiro acha que a porcentagem da riqueza do país detida pelo 1% mais rico deveria ser de 33%. É 15 pontos percentuais maior, mas nem por isso o tema do 1% provocou tanta celeuma como, por exemplo, nos Estados Unidos.

Há uma superestimação do número de usuários da internet: o brasileiro acredita que 72% dos patrícios a utilizam, quando, segundo a Ipsos-Mori, são apenas 53%.

Repito: não é um pecado mortal ignorar a realidade exata de certas questões. Em todos os 33 países pesquisados acontece a mesma coisa.

Mas calibrar melhor o tiro ajudaria sem dúvida a colocar as prioridades em ordem, certo?

A íntegra da pesquisa está no site do instituto.


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