Folha de S. Paulo


É preciso educar para o século 21

Joe Raedle/AFP
NEW YORK, NY - NOVEMBER 09: Republican president-elect Donald Trump delivers his acceptance speech during his election night event at the New York Hilton Midtown in the early morning hours of November 9, 2016 in New York City. Donald Trump defeated Democratic presidential nominee Hillary Clinton to become the 45th president of the United States. Joe Raedle/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
O republicano Donald Trump discursa após vencer a eleição para presidente dos Estados Unidos

Nas discussões que precederam o processo eleitoral aqui nos Estados Unidos, onde vivo, uma das análises apresentadas diz respeito às características demográficas dos eleitores de cada lado.

Há uma clara constatação de que o eleitor de Trump é majoritariamente branco e com menos anos de escolaridade, diferentemente de sua principal adversária, Hillary Clinton, que tem um eleitorado mais diverso e com mais estudo. Isso desqualifica um lado ou outro? Não necessariamente, e nem quero aqui entrar nesta discussão.

O que ocorre nos Estados Unidos, segundo Paul Reville, pesquisador de Harvard, é que empregos com salários de classe média e algum prestígio estavam disponíveis há duas décadas para jovens brancos que abandonavam o ensino médio, e isso já não ocorre.

Os empregos com salários de classe média se abriram para outros grupos étnicos e minorias, associados, porém, ao acesso a maior qualificação, seja em cursos técnicos ou no ensino superior.

Ora, o ressentimento que daí advém não é pequeno e se torna mais aberto agora que as redes sociais permitem espaços de vocalização para todas as tribos. Construíram-se, assim, uma identidade tribal e o líder que pode representá-la, não por a ela pertencer, mas por se comunicar na sua língua. A mística de um passado dourado a ser reconstruído conclui a tarefa.

Duas perguntas se levantam nesse contexto: por que nos Estados Unidos, como, aliás, no Brasil, os jovens abandonam o ensino médio e como uma proposta educacional diferente poderia ajudar a construir cidadãos empregáveis e aptos a participar de forma construtiva na sociedade?

Os jovens abandonam o ensino médio, de acordo com publicação recente do Banco Mundial, por desinteresse ou despreparo. Não consideram que o que aprendem é importante ou relevante para sua vida e, embora alguns entrem precocemente no mercado de trabalho, muitas vezes informal, boa parte não estuda nem trabalha. Não fogem do rigor do estudo, e sim da percepção de que pouco aprendem.

Nesse contexto, vale a pena pensar se 13 disciplinas, distribuídas em 4 horas de aula, ajudam a tornar o ensino interessante. Sim, inventamos esta jaboticaba: nenhum dos 30 primeiros países do Pisa tem tantas disciplinas, mesmo que contem com carga horária maior.

Por outro lado, trabalhamos na escola apenas com competências cognitivas e com um estilo de aula em que o aluno ouve, copia do quadro e anota no caderno, com limitada participação. Onde estão as competências para a vida em sociedade ou para a empregabilidade nesse currículo enciclopédico e percebido como irrelevante?


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