Folha de S. Paulo


Saco Cheio

Estamos em clima de despedida, o Benja vai passar uns dias em Belo Horizonte em breve. Pegamos o avô no escritório e vamos almoçar comida de férias: hambúrguer em plena segunda.

No caminho, eu, a motorista, paro de supetão antes da faixa de pedestres -ainda não descobri uma maneira boa de frear sem assustar os passageiros nem o motorista do carro de trás.

Avô diz: "Você é doida? E se o motorista de trás não conseguir parar a tempo e bater na sua traseira?" Na outra ponta da família, o neto: "Mas, vô, tem que parar mesmo antes da faixa!"

Daniel Bueno
FOLHINHA - Ilustração da coluna Cafuné ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***

Outra discussão surge porque o vidro do carro está sujo, faz meses que não é lavado. O vô: "Consegue ver alguma coisa com essa sujeira?" Eu, que não quero dar o braço a torcer: "Claro!"

A discussão deixa o clima tenso. Cada um defende seu ponto de vista, sem perceber que estamos esquentados não por causa da faixa de pedestre, mas sim por outra coisa.

Em geral, no dia a dia, vamos ficando de saco cheio um do outro, e isso é difícil de entender. E esse saco cheio acaba aparecendo nos bate-bocas.

Esperando os sanduíches, percebemos isso. Também nos damos conta de que, às vezes, é mais fácil brigar por causa de uma faixa de trânsito do que por algo que a gente sente, mas não sabe dizer o que é, como saudades, tristeza ou raiva de quem gostamos.

O engraçado é que, justamente quando percebemos isso, conseguimos desfazer o mal-estar e tudo volta a paz.


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