Folha de S. Paulo


Tucaninho

Virando à direita na estrada que desce da serra da Bocaina ao bairro dos Macacos, entre São Paulo e Rio, existe um ninho de tucanos.

Esses pássaros de bicos longos e coloridos fazem um barulho estranho quando piam, parecem velhas senhoras pigarreando um resto de gripe. Se a gente fosse a Emília do Sítio do Picapau Amarelo, é mais do que certo que os tucanos entrariam com tudo na reforma da natureza -e um barulho mais agradável seria escolhido no lugar desse estranho grasnar.

O bebê tucano estava tentando cruzar a tal da estrada. Aos trancos e barrancos, o bichinho ia meio que pulando, meio que rolando, chamando a mãe. Acho que tinha caído do ninho ou participado de uma tentativa malsucedida de aula de voo.

Andrés Sandoval
FOLHINHA - Ilustração da coluna Cafuné ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***

Ao longe, era possível ouvir o grito da mãe, tentando localizar o filhote. Entre as plumas novas do bichinho, via-se a pele rosada dele. A plumagem vermelha do rabo dava a impressão de ser um grande machucado.

Ficamos paralisados, não sabíamos o que fazer. Recolher o filhote? Deixá-lo atravessar a estrada? E se um bicho o pegasse? Nem ânimo de tirar uma foto tivemos. O tucaninho foi atravessando a estrada, e nós ficamos sem nos mexer. Ouvimos novamente o barulho da mãe, mais próximo. Resolvemos nos afastar para não atrapalhar o resgate.

Quando voltamos do passeio à cachoeira, o tucaninho não estava mais lá. Acho que deu tudo certo.


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